quinta-feira, 17 de junho de 2010

Epístolas Gerais (Tiago; l e 2 Pedro; l, 2 e 3 de João; Judas)

Introdução
As Espístolas do Novo Testamento se dividem em duas classes: as paulinas – já estudadas juntamente com o livro de Atos dos Apóstolos – e as gerais; uma das quais. Hebreus, já estudamos também. Restam a de Tiago, as de Pedro, as de João e a de Judas. Convém relembrar que todo este conjunto está depois das epístolas paulinas e antes de Apocalipse, o livro que encerra a Bíblia. A Epístola aos Hebreus, classificada por alguns como paulina, e por outros como geral, é a que se encontra entre as declaradamente paulinas e as declaradamente gerais. Se imaginarmos a série: Hebreus, Tiago, Pedro, João, Judas, e sublinharmos Hebreus e Judas como os extremos, as outras três cartas – Tiago, Pedro e João – podem ser facilmente recordadas. Basta lembrar os números l, 2 e 3; pois Tiago tem somente uma carta, Pedro tem duas e João, três. Outro recurso que nos pode ajudar a recordar é que Pedro, Tiago e João foram os mais íntimos de Jesus; com a ressalva de que Tiago, o escritor da Epístola que leva seu nome, não é o mesmo referido como filho de Zebedeu nos Evangelhos.
Estas cartas são chamadas gerais porque os destinatários das mesmas não estão especificados como o são nas de Paulo. Tiago se dirige "...às doze tribos que se encontram na Dispersão..." (Tg 1.1). Pedro escreve "...aos eleitos que são forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia, e Bitínia..." (l Pe 1.1); e logo "...aos que obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo..." (2 Pe 1.1). João se dirige aos que puderam ter "...comunhão conosco..." (l Jo 1.3); logo depois, "...à senhora eleita [a igreja] e aos seus filhos..." (2 Jo 1.1); e também "...ao amado Gaio..." (3 Jo 1.1). Judas, por sua parte, escreve "...aos chamados, amados em Deus Pai, e guardados em Jesus Cristo..." (Jd 1.1).
Como se vê, exceto a pequena saudação dirigida a Gaio, todas as outras são dirigidas, não a uma igreja ou pessoa em particular, mas, sim, à igreja em geral.
Portanto, não há necessidade de relacionar os ensinamentos com circunstâncias específicas ou particulares, posto que se aplicam em muitos lugares e tempos. Os perigos denunciados por Tiago por exemplo – hipocrisia, falta de caridade, língua solta, paixões, presunção e avareza – são comuns em todos os tempos e lugares. Sempre há os mesmos perigos; espera-se a mesma paciência. O mesmo se pode encontrar nas demais cartas, e por isso se as designa, apropriadamente, como gerais.
O apóstolo João é chamado o apóstolo do amor. Esta designação se explica bem quando lemos l João 4. Ali, em poucos versículos (vv.7-21) se encontra a palavra "amor", ou alguma inflexão do verbo amar, quase duas vezes por versículo. Assim que, podemos acertadamente caracterizar a João como o apóstolo do amor; a Paulo como o apóstolo da fé; a Pedro, o apóstolo da esperança. Naturalmente, sãc características gerais, pois ninguém pode ser cristão sem a experiência tríplice dessas virtudes. Porém, aproveitando a caracterização, diríamos que Tiago é o escritor que trata da vida cristã; uma espécie de síntese das virtudes referidas.
Analisemos agora estas cartas, uma por uma, ainda que brevemente. É bom notar a diferença de que as já estudadas são cartas de Paulo para alguém; e são conhecidas pelo nome de seu destinatário ou destinatários. São cartas aos Coríntios, aos Efésios, a Timóteo, etc.
As que agora vamos considerar toma o nome do personagem que as escreveu. Assim: de Tiago, de Pedro, de João, e de Judas. Pequeno detalhe, porém importante distinção para sermos exatos.

Tiago
Examinemos primeiro a carta de Tiago. O conteúdo da Epístola está indicado em forma esquemática no nosso quadro. Os recursos para memorização são visíveis. Usamos a mesma letra inicial para todas as expressões, de modo a ajudar o estudante a reter a informação na memória. O mesmo faremos com os quadros sinóticos das cartas de Pedro e de João.
Deste modo, podemos notar que Tiago se dirige aos crentes da dispersão (1.1) para exortá-los a ter paciência nas aflições (1.1-15). A provação virá, porém o crente "...depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam." (v. 12).
Seguidamente Tiago se refere a várias classes de perigos que cercam o crente: perigo da hipocrisia (1.16-27); perigo de falsa caridade (2.1-26); perigo da língua (3.1-18); perigo de paixões (4.1-12); de presunções (4.13-17), e de avareza (5.1-6).
A exortação de Tiago contida no capítulo 5.7-20 é conclusão adequada à sua exposição. Diante de tanto perigo, a exortação é: "Paciência até a vinda do Senhor" (v. 7).


Primeira Epístola de Pedro
A análise do crente feita por Pedro em suas duas cartas é apresentada em nosso gráfico, em forma de um acróstico. Usamos, como recurso para memorizar, as iniciais da matéria que estamos estudando; isto é, as Cartas de Pedro. O C para o tema geral das cartas: o crente ou o cristão; o S para o tema desenvolvido na Primeira Carta, e o P para o da Segunda. No gráfico isto está bem claro.


Depois da introdução e apresentação que faz de si mesmo como escritor da Carta (l Pe 1.1,2), Pedro ensina que o crente é salvo (1.3-2.10). É salvo em esperança, em santificação e em edificação. Porém o crente também é submisso (2.11-3.7). É submisso em sua relação com as autoridades, na sua conduta social e na sua vida doméstica. De maneira magistral, ainda que breve, Pedro enfoca vários dos aspectos da vida do crente.
Por último ele ensina que o crente também é sofredor (3.8-5.14). É sofredor no mundo, embora isto não quer dizer que o crente deva ficar constrangido por qualquer coisa; visto que, anteriormente, e de forma expressa, o apóstolo já tenha exortado aos crentes, dizendo: "...[estais] sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós..." (3.15). Logo a seguir, Pedro ensina que o crente é sofredor também na igreja, e conclui com grande doxologia.
Nesta primeira carta Pedro menciona as aflições que se desencadeiam contra os eleitos; assim como as esperanças de que, em meio a essas aflições, os cristãos podem ser sustentados. As aflições sempre existem; no entanto, há ocasiões especiais, como seria o caso da igreja dispersa por toda a Ásia Menor. Para eles, de maneira especial, esta epístola é um consolo; um alívio para os cristãos que se encontram perseguidos.

Segunda Epístola de Pedro
A letra P nos serve de inicial para as expressões que analisam a Segunda Epístola de Pedro, a qual trata do progresso do cristão (1.1-21). Fala-nos da provisão feita para o crente (vv. 1-4); e dos degraus para o crescimento (vv. 5-11); e faz também uma admoestação para o cristão ter presente a verdade recebida (vv. 12-21).
No capítulo 2, Pedro menciona os perigos que representam os falsos mestres e os falsos profetas. Sob o denominador comum de injustos (v. 9), inclui ali tanto os mencionados como aos que seguem após eles. Menciona assim a doutrina dos ímpios (vv. 1-3); o juízo que cairá sobre eles (vv. 4-11); o engano dos mesmos (vv. 12-19) e sua recaída (vv. 20-22).
Por último, no capítulo 3, Pedro nos fala do porvir, das coisas futuras; principalmente dos eventos relacionados com a volta de Cristo. Nos versículos 1 a 7 Pedro ensina como a vinda de Cristo é negada por alguns; nos versículos 8 a 10 essa vinda é afirmada; e do 11 ao 18 se ensina que é esperada.
Esta segunda epístola, em vez de aflições e constrangimento exterior, encara melhor as provas internas dos falsos ensinamentos. É uma carta breve, em que o apóstolo recorda que os falsos mestres estão sempre rondando a igreja; porém ela tem de olhar para o futuro, animada pela certeza da segunda vinda de Cristo.

Epístolas de João
As três cartas de João, desiguais em sua extensão, vão diminuindo como a letra V que, como coincidência curiosa para ajudar-nos a memorizar, corresponde a inicial das palavras que usamos para nosso quadro sinótico: verdadeira vida, verdadeira doutrina e verdadeiro presbítero ou pastor. Estes são, respectivamente, os temas das três epístolas joaninas.



Primeira de João
A Primeira Epístola de João mostra que a verdadeira vida está na comunhão com Deus. Porém essa comunhão com Deus implica no reconhecimento do pecado e a vitória sobre o mesmo, a partir do perdão de Deus. Daí o contraste entre os filhos de Deus e os que não o são (veja l Jo 2.22,23).
As diferenças que aparecem entre os não cristãos e os filhos de Deus levam o escritor a escrever expressões aparentemente exageradas; tais como, por exemplo, a afirmação: "Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado..." (3.9). Não se refere ao homem concreto, mas, sim, à posição do regenerado em Cristo. A expressão dessa posição é o amor. Nosso amor não é mais que uma cópia da natureza de Deus (4.11); quem, em Cristo, já se expressou em amor para conosco (v.9).
O resultado desta atitude de amor é uma vida verdadeira e vitoriosa (5.1-13); a qual, por sua vez, produz uma vida verdadeira cheia de confiança e segurança (vv. 14-20).

Segunda de João
A Segunda Epístola de João é um pequeno bilhete dirigido à igreja, a qual João chama "senhora eleita" (1.1). Na carta João insiste na importância da piedade inspirada em uma doutrina pura. Esta doutrina deve ser recebida alegremente (vv. 1-6); porém deve também ser conservada perseverantemente (vv. 7-12).

Terceira de João
A Terceira Epístola de João é dirigida a Gaio (1.1), o qual, segundo a tradição, parece haver sido um líder da igreja em Pérgamo. Daí usarmos a designação de presbítero; nome que é sinônimo de ancião ou pastor, e com ele indicamos o papel de liderança que ostentava Gaio. É curioso que a carta nos apresenta uma espécie de “sanduíche”, posto que a recondenação de Diótrefes, o mal (vv. 9,10), está entre a reconfírmação que faz de Gaio (vv. 1-8) e de Demétrio (vv. 11,12).

Judas
A Epístola de Judas não é senão um grito de advertência em meio aos tempos maus e a apostasia de Israel. Ter piedade exige perseverança.
Ao compararmos a carta de Judas com o capítulo 2 da Segunda Carta de Pedro, encontramos certa semelhança. Alguém tem dito que é uma repetição. Não há maneira de confirmá-lo ou negá-lo. Além disso, Judas tem como tema central o ímpio, em contraste com Pedro que trata do crente. O fato, no entanto, é que Pedro, apresentando o crente, abre um parêntesis no capítulo l, para colocar ali o adversário do cristão; isto é, o ímpio.
No último quadro assinalamos o paralelismo entre estas duas partes das Sagradas Escrituras. O estudante fará bem em comparar estas expressões diretamente no texto da Bíblia.


Conclusão
Pelo que antecede podemos ver, então, que as epístolas gerais, chamadas assim por causa dos destinatários a quem estão dirigidas, também merecem tal designação por causa de seu conteúdo; e a aplicação universal do mesmo.

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