quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O Avivamento Holy Blues: Os primeiros movimentos pentecostais.


Em 1866, a universidade de Fisk, em Nashville, foi aberta aos estudantes negros. Dali saíram os Fisk Jubilee Singers, o primeiro grupo que fez versões spirirtuals para shows. Os Fisk Jubilee Singers fizeram sua primeira turnê nacional em 1871, e o professor Henry Ward Beecher escreveu sobre sua apresentação em Nova Iorque: “se distinguem por executar os espirituais e os hinos das plantações que só podem ser cantados por quem sabe como seguir o compasso do chicote do amo”. O grupo realizou uma turnê mundial em 1886 e fez que com que aumentasse muito o apreço pelos cantos religiosos afro-americanos, apesar de que os interpretava de forma suavizada e europeizada.
No momento em que o Blues começou a tomar forma de embrião, nos anos noventa do século XIX, a canção religiosa afro-americana era já uma tradição mais velha que a própria república: Os informes realizados pelos brancos do século XVIII e XIX nos oferece uma descrição incompleta desta música, mas ao menos nos dizem que muitos elementos característicos da música religiosa negra e dos ofícios estavam firmemente assentados antes da guerra civil. O Reverendo Robert Mallard (interessado, mas ao mesmo tempo surpreendido) pelo espetáculo que observou numa igreja negra de Chattanooga em 1859, escreveu: “Toda a congregação mantinha um forte e monótono canto, interrompido por diferentes sons: gemidos, gritos e bater de palmas”. O reverendo Mallard (cuja concessão mais liberal afirmava: se deve ter em conta, por suposto, a excitabilidade do temperamento negro”) podia ficar mais surpreendido ainda com os espetáculos similares de um século mais tarde.
Os elementos dos ofícios e canções religiosas afro-americanas se mantiveram constantes durante gerações (os salmos lentos descritos por Higginson durante a guerra civil derivavam da prática da citação de versículos, utilizada pelos puritanos ingleses em épocas tão antigas como em 1644 para ensinar os salmos aos analfabetos), mas essa tradição não foi, de nenhuma maneira, insensível às mudanças, foi afetada mais rápida e radicalmente nos últimos cem anos que em qualquer outra época, começando da última década do século XIX com o desafio que as novas igrejas Holiness supunham para as igrejas já consolidadas, Batista e Metodista. Populares e estáticas, as novas igrejas Holiness se estremeciam com os «gritos» e conjuntos de jazz. Antes da primeira guerra mundial, apareceu um tipo de cristianismo empírico com a difusão da idéia pentecostal que dava grande importância a experiência do arrebatamento e ao fato de falar línguas desconhecidas. A diferença entre a música que acompanhou ao Grande Despertar dos anos trinta do século XIX e o Segundo Despertar (com suas reuniões ao ar livre), uns setenta anos mais tarde, é que podemos escutar a música destas convulsões religiosas graças ao invento de Edison de 1877. Certamente, encontramos neste momento, as origens de um estilo musical vibrante que influenciou toda a música contemporânea e as raízes dos primeiros movimentos pentecostais protestantes.

sábado, 13 de outubro de 2007

Crescimento das igrejas cristãs negras e as primeiras oposições ao Holy Blues

Um grande despertamento religioso espalhou-se pela América nos primeiros anos do século XIX, caracterizado pelas grandes reuniões ao ar livre (camp meetings), de uma semana de duração e em zonas arborizadas, onde os crentes pregavam, oravam e cantavam. A presença negra (e seu entusiasmo) nessas reuniões geralmente superava a dos brancos. Um observador de uma reunião celebrada em 1838 na Pensilvânia, onde compareceram sete mil pessoas, queixava-se que seus gritos e cantos eram tão buliçosos que o canto da congregação branca frequentemente ficava abafado pelos ecos e reverberações dos tumultuados sons da gente de cor. Os fiéis eram arrastados pela corrente de êxtase coletivo similar a experimentada um século depois nas Igrejas Pentecostais. As canções camp meeting, que formaram parte significativa de uma tradição «spiritual» transmitida oralmente, se configuraram nesse momento.
Nem todas essas canções teriam sido do agrado dos senhores brancos se as tivessem entendido. Em 1830, um visitante escocês, Peter Neilson, assinalou sobre os cantos spirituals negros: A queda de Satã constitue o tema principal dos seus hinos”. O hino que Neilson escutou, «Satan, Your Kingdom Must Come Down», seria gravado quase um século depois por Blind Joe Taggart. O momento da observação de Neilson e as entrelinhas ligeramente dissimuladas da canção (a verdadeira identidade do diabo) são dignas de destaque.
Um ano mais tarde, em 1831, a insurreição de Nat Turner se estendeu ao condado de Southamptom, Virginia. O governador desse estado, Floyd, disse à assembléia legislativa do estado: “Os incendiários mais ativos que existem entre nós... são os pregadores negros”. Nos dias seguintes a emancipação, um sobrevivente dos tempos do velho profeta Nat, CharityBowery, cantou um hino para um pesquisador:

There's a better áay a-coming Se avizinham tempos melhores
There's a better day a-coming Se avizinham tempos melhores
Oh, Glory, Haalelujah! Glória, aleluia!

“Não queriam nos deixar cantar isso” , recordava Bowery dos dias tensos posteriores a revolta de Turner. “Pensavam que iríamos criar uma rebelião só porque cantávamos ‘Se avizinham tempos melhores’ “.
No outono seguinte ao ressoar dos canhões em Fort Sunter, uma mulher branca chamada Mary Boykin descrevia no seu diário uma visita a uma igreja negra em uma plantação do estado de Carolina do Sul. O pregador “batia palmas ao final de cada frase e sua voz subia até alcançar o tom de um grito agudo, não deixando de ser claro e musical, às vezes em um tom mais baixo, queixoso, que chegava ao coração. Logo depois de um ofício de caráter estático, cheia de um ardor piedoso na voz, a congregação rompeu a cantar um dos seus comovedores hinos negros. Para mim é a música mais triste de todas as músicas da Terra, extranha e deprimente e muito além da minha capacidade para descrevê-la”.
Durante a guerra civil, 186.000 soldados negros serviram no exército da União como os da «United States Colored Troops*». Apesar de que o exército ainda era segregador, os soldados brancos e negros mantiveram um contato sem precedentes, que deu como resultado, um amplo conhecimento, a escala nacional, das canções afro-americanas. O coronel Thomas W Higginson do regimento de voluntários da Carolina do Sul, escreveu um livro de memórias, Army life in a Black Regiment, onde descreveu a música que escutou nos acampamentos de soldados negros: O "grito"* interminável está sempre ao alcance do ouvido, com uma mistura de piedade e exaltação, e seu bater de palmas soam como castanholas. Em seguida se fazem reuniões para orar mais tranquilamente, com invocações piedosas e salmos lentos, de memória pelo solista, duas frases ao mesmo tempo, numa espécie de canto de lamentação.
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* Tropas de cor dos Estado Unidos.

Na rota do Holy Blues - primeiras igrejas...

Entre 1505 e 1870 foram escravizados e transportados à América aproximadamente dez milhões de africanos, na migração mais extraordinária da história do homem. Os ingleses, que a princípio rejeitavam a escravidão, aderiram entusiasmados ao comércio de escravos, quando viram os copiosos benefícios obtidos do trabalho escravo pelos seus detestados rivais colonialistas, os espanhóis. A Inglaterra envolveu-se no mercado de escravos a meados do século XVII, se bem que já tinha levado africanos às suas colónias norte-americanas em 1619 um ano antes da chegada dos Pilgrims para trabalharem como servos forçados. Em 1788 Alexander Falconbridge estabeleceu seu An Account of the Slave Trade na costa africana: "Os pobres infelizes são obrigados às vezes também a cantar; mas quando o fazem, suas canções são geralmente saudosos lamentos devido ao exílio do seu país natal."
A este exílio somou-se uma nova demonstração de desumanização: a dissolução (através do sistema de leilão) de qualquer laço familiar ou tribal que tivesse sobrevivido ao deslocamento desde a África. As expressões da cultura e da religião eliminaram-se na sua maior parte, já que qualquer reunião se podia considerar como um pretexto para a insurreição. Privados da identidade do seu passado cultural e sem a possibilidade de se criar uma nova, os africanos da América não possuíam uma instituição que lhes oferecesse um núcleo cultural, um lugar de reunião fora do universo e da ideologia dos brancos até que surgiu a igreja afro-americana.
O primeiro batismo de um africano que se tem conhecimento nas colônias norte-americanas ocorreu em 1641. O ardor missionário na América foi abrandado devido a uma preocupante questão: batizar um africano lhe dava o direito a liberdade? Foram aprovadas leis a esse respeito de forma que isso não ocorresse, mas ainda não existia muita pressa para cristianizar os bens humanos dos colonos. Esta mentalidade mudou nos anos trinta do século XVIII, com o Grande Despertar, um ressurgimento religioso que se estendeu pela Inglaterra e América e que por fim considerou plausível que os escravos se covertessem. Entre os missionários que chegaram a América nessa década do século XVIII encontrava-se John Wesley, o fundador do metodismo. Suas pregações foram interrompidas pelos hinos do doutor Isaac Watts, um pastor, médico e compositor inglês, cuja música era mais viva e as letras eram mais próxima à linguagem daquela época do que os cerimoniosos salmos de então. As edições coloniais e spirituals dos hinos de Watts apareceram pela primeira vez em 1739 e demostraram ser especialmente populares entre os escravos. A formação religiosa que lhes ofereciam Wesley e os missionários, incluíam tanto as sagradas escrituras como também os hinos que reforçavam as pregações. Em 1755, o reverendo Samuel Davies, um evangelista presbiteriano, escreveu: “Não posso deixar de observar que os negros, mais que outras espécies humanas que conheço, tem o melhor ouvido para música. Experimentam uma espécie de gozo estático com a salmodia”.
Em 1760, o reverendo Todd, um missionário que distribuia livros de hinos entre os escravos recém convertidos, lamentava ver-se obrigado a mandar de volta, e com as mãos vazias, as diversas pessoas que tinham vindo para lhe pedir os salmos e os hinos de Watts.
Era 1800, nos Estados Unidos viviam mais de um milhão de negros, o que vinha a ser um 19 por cento da população total da nação. Mais de cem mil eram livres e entre esses encontravam-se os fundadores das primeiras igrejas afro-americanas. Richard Allen fundou a Igreja Metodista Episcopal Africana de Bethel na Filadélfia em 1794 e em 1801 publicou o primeiro hinário concebido exclusivamente para o uso de uma congregação negra.
A criação de igrejas negras segregadas foi de certa forma a resposta do mal-estar branco pela presença negra (também segregada) nos lugares de culto americanos, mas também proporcionou um verdadeiro centro comunitário longe das sanções e observações dos brancos. Este centro demonstrou ser firme como uma rocha durante gerações e transformou os seus pregadores em líderes da comunidade, que tomaram a sério o conselho de Watts: “Pastores também poderiam cultivar a capacidade de compor canções espirituais e utilizá-las juntamente com outras partes do ofício, pregar e orar”.

Holy Blues X Blues – Música de Deus versus Música do Diabo?

"Holy blues"(blues religioso) é um evidente oximoro, (uma figura retórica que consiste em reunir palavras aparentemente contraditórias – paradoxo). (Dicionário Houaiss). Blues religioso é um oximoro se o blues é considerado como "a música do diabo", um principio sustentado por muitos cantores de blues "reformados" e pelos "santos" de algumas igrejas afro-americanas. O blues não é religioso e a música religiosa não é o blues. O blues celebra os prazeres da carne, enquanto que a música sagrada celebra a libertação das amarras mundanas. Um é o azeite e o outro é a água benta, não podem ser misturados. Ao menos, isso é o que alguns quiseram.
Numa época considerada como as vozes gêmeas da cultura afro-americana, as tradições gospel e blues, tendo sido julgadas gradativamente com os dois lados de uma linha divisória de caráter dual que somente pode ser atravessada deixando a alma em perigo. Temos acreditado que as escolhas dos afro-americanos eram de mútua exclusão: o blues ou a música gospel, Deus ou o Diabo, o céu ou o inferno. O cantor de blues escolhia as segundas opções, às vezes estabelecendo pactos faustianos (como, conforme ao que se diz, fez Tommy
Johnson) para adquirir um domínio mais amplo da "música do diabo".
No momento atual muitos fãs consideram aos cantores de blues, principalmente os cantores do Delta do Mississipi, como os equivalentes afro-america
nos do século XX dos poetas românticos do século XIX, que se rebelaram contra as convenções sociais com sua arte e morreram jovens pela sua inclinação à tuberculose, á sífilis, ou ao suicídio.
O mito do poema no estilo Byroniano, desafiador, autodestruidor manteve sua enorme força física e repercussão durante mais de cento e cinqüenta anos da cultura ocidental.
Para o artista romântico tanto a vida quanto a arte devem desafiar os tabus, desencadear um conflito interno e externo, e finalmente levar o artista até o martírio. Também tem sido a razão de ser de muitas estrelas do rock, vivas e mortas. O mito explica-nos que a vida e a arte são inseparáveis.
O problema de projetar esse mito sobre os cantores de blues estriba em que a cultura na qual eles viveram e trabalharam não tinha nenhum vínculo tangível com a tradição romântica. Embora alguns bluesmen acreditassem estar tocando a música do diabo e poucos deles vangloriavam-se disso adotando nomes como "Devil Son-in-Law"2, nenhum deles parece ter equiparado o "desafio demoníaco" a uma via alternativa para chegar a uma verdade mais elevada, com o objetivo evidente dos românticos europeus (uma meta exprimida na famosa frase da obra Proverbs of Hell, de William Blake: "O caminho do excesso conduz ao palácio da sabedoria"). A deificação romântica do indivíduo é essencialmente alheia à cultura afro-americana, e a projeção de um personagem byroniano nos cantores de blues (principalmente, sem dúvida, em Robert Johnson) nos fala mais sobre o observador do que sobre o observado.
Não e necessário dizer que o dualismo da "música do diabo" como oposta completamente às "canções de louvor à Deus", é alguma coisa que os intelectuais brancos imaginaram simplesmente para recriar o bluesman à nossa própria imagem. Na verdade, existem suficientes provas para asseverar que os cantores de blues podiam apegar-se a uma ou às duas sensibilidades. Existem também razões para acreditar que a cultura na qual viveram era mais misericordiosa com eles do que sua retórica religiosa, a olho nu, poderia sugerir. Como explicar então, que os homens que trabalhavam como cantores de blues e pregadores não se transformassem em parias das suas comunidades?
O blues e a música religiosa desempenhavam diferentes funções sociais na cultura afro-americana. As experiências exemplificativas estavam em desacordo, mas os músicos ligados a elas não se encontravam tão afastados entre si como nosso paradigma do bluesman byroniano poderia sugerir. O blues nasceu no interior de uma cultura afro-americana no momento em que as igrejas extáticas Holiness e Pentecostal estavam-se espalhando, e estes credos populares acolheram expressões musicais ecléticas, no nosso caso o gospel ou holy blues.
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1 Torch songs: canções sentimentais nas quais se lamenta a perda ou falta de correpondência de um amor.
2 “O genro do diabo": Um dos apelidos que William Bunch pôs a si mesmo (imagem 2).

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Pense antes de responder!!!

1) Se você conhecesse uma mulher que está grávida e já tem oito filhos, dos quais três são surdos, dois são cegos, um é deficiente mental, e ela tem sífilis...
Recomendaria que ela fizesse um aborto?


Leia a próxima pergunta antes de responder a essa.

2) É tempo de escolher um líder mundial e o seu voto é importante.
O comportamento dos candidatos é o seguinte:

CANDIDATO A: é associado a políticos corruptos e costuma consultar astrólogos. Teve duas amantes, fuma um cigarro atrás de outro e bebe de 8 a 10 Martinis [bebida misturada, ¾ gin ¼ vermute branco seco] por dia.

CANDIDATO B: foi despedido do trabalho duas vezes, dorme até meio-dia, usava drogas na Universidade e bebia meia garrafa de Whisky toda noite.

CANDIDATO C: é um herói condecorado de guerra, é vegetariano, não fuma, bebe às vezes um pouco de cerveja e nunca teve relações extra-conjugais.

QUAL DESSES CANDIDATOS VOCÊ ESCOLHERIA ?

Decida antes d
e procurar a resposta no final da postagem...

Se você escolheu:

CANDIDATO A: é Franklin Roosevelt












CANDIDATO B: é Winston Churchil











CANDIDATO C: é Adolph Hitler









E sem esquecer a primeira pergunta:

A resposta da questão do aborto... se respondeu que sim, você ACABA DE MATAR BEETHOVEN.


Nem tudo o que brilha é ouro, e nem tudo o que é ouro deve brilhar.. O importante são as decisões que você toma no caminho, e como elas te ajudam a chegar ao final. Por isso é que não devemos pré-julgar ninguém.

Principalmente com a descrição de duas ou três linhas.

O Budismo

Buda, palavra que significa, em páli e sânscrito, "Iluminado" ou "Desperto", foi, segundo todas as probabilidades, uma personagem histórica. Contudo, em suas Vidas ou jãtakas, os dados mitológicos predominam a ponto de transformá-lo em protótipo do "homem divino", segundo a tradição indiana (ver Jainismo, 21.3) - que pertence a um sistema encontrado também em outras áreas geográficas. Esse sistema apresenta elementos comuns com os theioi andres dos gregos e com as biografias mais tardias de outros fundadores de religiões, como Mani, etc. Embora seja impossível discernir os elementos históricos, devem ser levadas em conta várias informações, segundo as quais o futuro Buda teria sido filho de um régulo do clã Sãkya, no noroeste da índia. As cronologias de seu nascimento variam de 624 a 448 a.C. Sua e morre alguns dias depois do parto, não sem ter sido beneficiada por todas as premonições que lhe anunciavam ter ela dado à luz um ser miraculoso. Segundo as versões docetas do nascimento de Buda, sua concepção e sua gestação foram imaculadas e o parto, virginal. Seu corpo teria revelado todos os sinais de um rei do mundo.
Aos dezesseis anos, Siddhãrtha casa-se com duas princesas e leva uma vida sem preocupações no palácio paterno. Mas, saindo três vezes do palácio, toma conhecimento dos três males inelutáveis que afligem a condição humana: velhice, sofrimento e morte.
Saindo uma quarta vez, vislumbra o remédio para eles ao contemplar a paz e a serenidade de um asceta mendicante. Ao acordar no meio da noite, os corpos flácidos de suas concubinas adormecidas revelam-lhe mais uma vez o caráter efêmero do mundo. Deixando rapidamente o palácio, entrega-se à ascese, mudando o nome para Gautama.
Depois de abandonar dois mestres que lhe ensinam, respectivamente, a filosofia e as técnicas da ioga, pratica um regime de mortificações muito severas em companhia de cinco discípulos. Mas, compreendendo a inutilidade desse tipo de ascese, aceita uma oferenda de arroz e ingere-a. Indignados com essa prova de fraqueza, seus discípulos o abandonam.
Sentando-se sob uma figueira, Sãkyamuni (asceta do clã dos Sãkyas) decide não se levantar antes de ter atingido a Iluminação. É assediado por Mãra, que conjuga em si a Morte e o Diabo. Ao alvorecer, vence-o e torna-se Buda, possuidor das Quatro Verdades que, em Benares, passa a ensinar aos discípulos que o haviam abandonado. A primeira Verdade é que tudo é Sofrimento (sarvam duhkham): "O nascimento é Sofrimento, o declínio é Sofrimento, a doença é Sofrimento", tudo o que é efêmero (anityá) é Sofrimento (duhkha). A segunda Verdade é que a origem do Sofrimento é o Desejo (trsna). A terceira Verdade é que a abolição do Desejo acarreta a abolição do Sofrimento. A quarta Verdade revela o Caminho Octuplo (astapãdà), ou o Caminho do Meio, que leva à extinção do Sofrimento: Opinião (drstt), Pensamento (sam-kalpa), Palavra (vãk), Ação (karmanta), Meios de existência (ajiva), Esforço (vyayama), Atenção (smrtí) e Contemplação (samãdhi). As quatro verdades estão próximas da mensagem original de Buda.
Após esse primeiro sermão em Benares, a comunidade (samgha) de convertidos enriquece-se espetacularmente com brâmanes, reis e ascetas - demais para o gosto do Iluminado, que é obrigado a abrir às mulheres a via do monaquismo. Nessa ocasião ele prevê o declínio da Lei (dharma). Ciúmes de rivais e absurdas rixas de monges não são poupados a Buda. Seu primo Devadatta, segundo algumas fontes, teria tentado matá-lo para sucedê-lo. Com a idade de oitenta anos, Buda teria expirado em conseqüência de uma indigestão. Segundo os eruditos, detalhes desse tipo são embaraçosos demais para a religião para que sejam inventados; é, portanto, provável que sejam verdadeiros.
A vasta literatura sobre o budismo deve ser classificada segundo a divisão tradicional do tripitaka, "coleção tríplice" dos sútras (as logias do próprio Buda), do vinaya (disciplina) e do abhidharma (doutrina). Acrescentam-se-lhes numerosos sãstras, tratados sistemáticos de autores conhecidos, jãtakas ou Vidas de Buda, etc.
Subsistem três tripitakas; um fragmentário dos monges Thera-vãda do Sudeste Asiático, redigido em páli; um dos Sarvãstivãda e dos Mahãsãnghika, em traduções chinesas; e, finalmente, as coleções tibetanas (Kanjur e Tanjur), que são as mais completas. Também chegaram até nós numerosos escritos em sânscrito.
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ELIADE, Mírcea; COULIANO, Ioan P. Dicionário das Religiões. 2a ed. Trad. Ivone Castilho Benedetti. São Paulo, SP, Ed. Martins Fontes, 2003 - Capítulo 6.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

A Janela

G. W. Target, escreveu uma história intitulada "A Janela", que fala de dois homens, ambos os quais tinham ficado seriamente enfermos, e que ocuparam o mesmo quarto pequeno de um hospital.
Um dos homens ti­nha permissão de sentar-se em seu leito uma hora a cada tar­de, para drenar os fluidos de seus pulmões. Sua cama ficava ao lado da única janela do quarto. O outro homem precisava passar todo o seu tempo estendido de costas sobre o seu leito.
Os homens conversavam por horas a fio. Falavam sobre as suas esposas e famílias, seus lares, seus trabalhos, seu envolvimento no serviço militar, aonde iam nas férias. E cada tarde, quando o homem na cama perto da janela podia sentar-se, ele passava o tempo descrevendo ao seu colega de hospital todas as coisas que ele podia ver do lado de fora da janela. E o homem no outro leito começou a viver para aqueles períodos de uma hora, onde seu mundo era ampliado e reavivado por toda a atividade e cor do mundo lá fora.
A janela dava para um parque com um belo lago, dizia o homem. Patos e cisnes brincavam na água, enquanto crianças faziam velejar seus barquinhos de brinquedo. Namo­rados passavam de braços dados, em meio a flores de todas as cores do arco-íris. Grandiosas e frondosas árvores enfei­tavam a paisagem, e um excelente quadro dos arranha-céus da cidade podia ser visto à distância. Enquanto o homem perto da janela descrevia tudo isso com belos detalhes, o homem do outro lado do quarto fechava os olhos e imagina­va a cena pitoresca.
Numa tarde quente, o homem cuja cama ficava perto da janela descreveu uma parada que passava. Embora o outro homem não pudesse ouvir a banda, podia vê-la com os olhos de sua mente, enquanto que o cavalheiro perto da janela retra­tava tudo com suas palavras descritivas. Inesperadamente, um pensamento estranho entrou em sua cabeça: Por que o outro homem teria o prazer de ver tudo, enquanto eu nunca vejo qualquer coisa? Aquilo não lhe parecia justo.
Enquanto o pensamento fermentava, o homem sentia-se envergonhado a princípio. Mas conforme os dias foram pas­sando, e ele foi deixando de ver mais cenas, sua inveja roeu-o, transformou-se em ressentimento e ele se achou incapaz de dormir. Ele poderia estar perto daquela janela — esse pensa­mento agora controlava a sua vida.
Certa noite, quando ele estava olhando, desconsolado, para o teto, o homem perto da janela começou a tossir. Estava se afogando com os fluidos de seus pulmões. O outro homem ficou espiando no quarto pouco iluminado, enquanto o homem perto da janela estendeu a mão para o botão, para chamar por ajuda.
Ouvindo do outro lado do quarto, ele nunca se moveu, nunca tocou o seu botão, o que teria trazido a enfermeira cor­rendo. Em menos de cinco minutos, a tosse e o engasgo para­ram, juntamente com o som da respiração. Agora havia so­mente silêncio—um silêncio mortal.
Na manhã seguinte, a enfermeira chegou trazendo água para os seus banhos. Quando ela encontrou o corpo sem vida do homem perto da janela, ela ficou triste e chamou os atendentes do hospital para levá-lo embora—sem palavras, sem agitação.
Assim que lhe pareceu apropriado, o outro homem perguntou se podia mudar-se para a cama perto da janela. A enfermeira ficou feliz em fazer a transferência, e, depois de certificar-se de que ele estava confortável, deixou-o sozinho no quarto.
Lenta e dolorosamente ele se apoiou sobre um dos seus cotovelos para ver as coisas por si mesmo. Ele se esforçou para olhar para fora da janela ao lado da cama.
E viu somente uma parede branca.
A busca da felicidade é uma questão de escolha... É uma atitude positiva que resolvemos expressar. E é indiscutível que as nossas circunstâncias não são as coisas que nos tornam alegres. Se esperarmos que essas circunstân­cias se endireitem, nunca seremos felizes.
Visto que a busca da felicidade é uma jornada interior, é útil vermos as duas opções que se mostram dispo­níveis diante de nós.
Atitude Mental Negativa
• A necessidade de certas coisas antes que possa ha­ver alegria.
• Uma forte dependência de outras pessoas que nos provejam alegria.
• Enfocar a alegria como algo que está "lá fora", sempre no futuro... esperando que algu­ma coisa suceda e assim tra­ga a felicidade.
Atitude Mental Positiva
• A necessidade de nada de tangível para que sejamos alegres.
• A capacidade de criar nossas próprias razões para a alegria.
• Escolhendo a alegria agora tornando-a uma busca atual... nunca esperando que todas as coisas estejam no seu lugar.
O segredo está em nossa atitude mental—nas coisas sobre as quais fixarmos as nossas mentes.
Lembre:-se: Mais cedo do que percebemos, todos nós estaremos olhan­do por aquela janela, para a parede em branco. Desde já precisamos exercitar essa atitude mental positiva para experimentarmos a felicidade, independente das circunstâncias. É como o Apóstolo Paulo ensinou a igreja de Filipos:
"Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco." Filipenses 4.8, 9

terça-feira, 2 de outubro de 2007

O Homem e a Mulher - Victor Hugo



O homem é a mais elevada das criaturas; a mulher o mais sublime dos ideais.

Deus fez para o homem um trono; para a mulher fez um altar. O trono exalta e o altar santifica.

O homem é o cérebro; a mulher o coração. O cérebro produz a luz; o coração produz amor. A luz fe­cunda; o amor ressuscita.

O homem é o gênio; a mulher é o anjo. O gênio é imensurável; o anjo é indefinível.

A aspiração do homem é a supre­ma glória; a aspiração da mulher é a virtude extrema; A glória promove a grandeza e a virtude a divindade.

O homem tem a supremacia; a mu­lher a preferência. A supremacia significa a força; a preferência representa o direito.

O homem é forte pela razão; a mu­lher invencível pelas lágrimas. A razão convence e as lágrimas comovem.

O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher a todos os martírios. O heroísmo notabiliza e o martírio purifica.

O homem pensa e a mulher sonha. Pensar é ter (vida) uma larva no cére­bro; sonhar é ter na fronte uma auréola.

O homem é a águia que voa; a mu­lher o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço e cantar é conquistar a alma.

Enfim. o homem está colocado onde termina a terra; a mulher onde começa o céu.



Victor Hugo