domingo, 30 de setembro de 2007

Solidão: tão perto e tão longe ao mesmo tempo.

“Não é bom que o homem esteja só... ” - Gn 2.18
Você assistiu o filme “O Náufrago”? Esse filme me produz uma profunda inquietação. Sempre me recordo das cenas em que Tom Hanks conversa com Wilson, a bola de voley. Aquele amigo imaginário lhe proporcionou esperanças para continuar lutando pela sobrevivência. Ninguém sobrevive sozinho. Mas, a solidão é a marca de nossos dias: Note como ela se apresenta na nossa vida cotidiana.
As pessoas nunca estiveram tão próximas umas das outras e tão distantes ao mesmo tempo. Observe quanta coisa a gente faz sem ter contato com uma pessoa.: quase todas as operações bancárias (caixa eletrônico); as informações nas grandes lojas são dadas por um terminal de computador. A própria entrada em alguns prédios é feita por um sistema de TV interna - você é visto mas não vê ninguém.
Edward Hopper (1882 - 1967) foi um pintor norte americano cuja obra é marcada por suas misteriosas representações realistas da solidão na conteporaneidade das grandes cidades. Uma de suas obras mais conhecidas, talvez seja “Nighthawks” (Aves da Noite – 1942) que mostra pessoas sentadas em um balcão de um restaurante. O intenso jogo de luz do restaurante contrasta com a noite escura e tranquila do lado de fora. Os clientes, sentados nos bancos ao redor balcão, aparecem isolados, distantes e alienados uns dos outros.
Pense nos grandes condomínios verticais, com centenas de apartamentos, em que as pessoas estão praticamente grudadas umas nas outras - alguém espirra no apartamento ao lado e o outro pode até dizer saúde; mas ao mesmo tempo são completamente estranhos uns aos outros: usam o mesmo elevador, o mesmo hall de entrada, mas nunca se encontram - tão perto... tão longe!
A solidão é essa sensação de ser "deixado de lado", rejeitado, indesejado, mesmo estando cercado de pessoas. A solidão produz um sentimento de vazio e inutilidade, e é considerada uma fonte universal de sofrimento. A solidão é uma fome de amor, fome de relacionamento que precisa ser satisfeita.
Sinceramente falando, você mesmo já não sentiu solidão em sua vida? Saiba que a solidão se apresenta em pelo menos três formas:
A solidão social, relacionada com a fome de ter um amigo, uma companhia com quem se possa repartir os sentimentos, afeições e emoções, etc. Foi esse tipo de solidão que sofreu o primeiro ser humano no mundo, uma vez que não tinha com quem conversar, planejar, sonhar. Essa solidão foi vista por Deus que disse: "Não é bom que o homem esteja só" Gn 2.18
A solidão espiritual é decorrente da separação do homem do Deus Criador. Quando o homem pecou no jardim do Éden e foi expulso do paraíso, a primeira saudade que sentiu foi de Deus.
Tinha uma esposa, tinha o trabalho mas não podia andar com Deus no jardim pelo fim da tarde, como antes. Foi essa fome de comunhão com Deus que levou o homem buscar a face de Deus: "Daí se começou a invocar o nome do Senhor "Gn 4.26"
Ainda temos a solidão cultural. Quando Deus criou o homem, deu-lhe o domínio sobre todas as criaturas da terra, bem como a responsabilidade de cuidar, cultivar e preservar o cosmos, o mundo a sua volta.
Portanto o trabalho é essencial ao ser humano para dar-lhe significado e propósito. Mas quando por incapacidade física ou por limitação de conhecimento ou até mesmo por falta de oportunidade o homem não encontra trabalho, ele não apenas encontra dificuldade em sua sobrevivência física como sofre de solidão existencial.
Enfrentando a solidão: Quem sabe você acessou o meu Blog porque está neste exato momento tentando enfrentar a sua solidão. Portanto, se a sua solidão é social, peça à Deus para que o ajude a encontrar um outro solitário e ofereça-lhe a companhia.
Se a sua solidão é espiritual, Deus diz por meio do Salmista: "Porque se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá" (Sl 27.10) Jesus diz ...aquele que vem a mim jamais o lançarei fora" Jo 6.37"Eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" Mt 28.20
Se a sua solidão é cultural quero contar uma estória: Certa vez fizeram uma pergunta a um guarda que morava numa pequena ilha, cuja única função era acender o farol no fim do dia.
Dias, meses, anos, alí, sozinho, acendendo o farol à noite, desligando pela manhã. Então lhe perguntaram o que fazia para suportar aquela solidão tanto tempo, ao que ele respondeu:
- Eu me preparo o dia inteiro para acender o farol, porque há noites em que ele é a única luz para os marinheiros no meio da tempestade. Eles sabem que eu estarei aqui, e se seguirem a luz do meu farol estarão a salvos. Como posso me sentir sozinho quando há tanta gente no mar precisando de mim?
Quem sabe a solidão de muitos está na luz apagada, ou debaixo da mesa. Um coração que não ama a Deus nem tão pouco ao próximo, quanta solidão pode sentir.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Vivendo com Sabedoria – Salmo 90


Como o tempo está passando para você? Para muitas pessoas, a vida passa e elas não vêem. Você já percebeu que as pessoas dizem "tenho tantos anos..."e que o certo é "eu não tenho mais tantos anos"? Segundo o salmista a vida ganha sentido, quando vivida com sabedoria. Nesta oração, Moisés pede para que o Senhor o ensine a contar os seus dias para que alcance um coração sábio. O que ele aprende e nos ensina neste salmo? Para viver com sabedoria é necessário:
1. Ter uma visão lúcida de você mesmo em relação à eternidade. (vv. 2-5)
"Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade tu és Deus" (v.2). Moisés tem esta sábia percepção de que Deus é imortal, desde sempre, sem variação sem velhice. Deus é até mesmo independente do mundo que criara.
Davi no Sl 8.3 tem a mesma visão quando contempla a criação, céus e terra, sua grandiosidade, obra das mãos divinas. Ele fica extasiado, e ao mesmo tempo, humilhado como homem, criatura, considerando a fragilidade e limitação dos homens. Diante disto pergunta: "Que é o homem?". A primeira impressão que o poeta tem é a de que o homem não é nada na vastidão do universo, na complexidade de suas obras.
O v. 4 é uma comparação como a de Is 40.15 onde as nações são como um pingo que cai dum balde, e como um grão de pó na balança". Esse texto coloca o mundo no seu contexto, que é Deus e nosso tempo de vida no seu enorme pano de fundo que é a eternidade. Tal fato humilha o orgulho humano, mas dá ânimo no que diz respeito às intervenções de Deus e o tempo certo delas. Tu reduzes o homem ao pó, e dizes: tornai, filhos dos homens. V.3 Esta visão derruba toda a arrogância humana. A vida, neste mundo, ganha sentido quando a eternidade é uma realidade. Sabe-se que a vida neste mundo é transitória, isto é, passageira. O ser humano é peregrino, forasteiro. Ao ser humano não está assegurada a continuidade de sua vida terrena no amanhã: "Não te glories do dia de amanhã porque não sabes o que trará à luz" (Pv 27.1)
A Bíblia apresenta uma série de figuras de linguagem para demonstrar a realidade tão passageira da existência humana: No Salmo 90 está registrado que "tudo passa rapidamente, e nós voamos". No Sl 144.4 "O homem é como um sopro; os seus dias como a sombra que passa" Davi disse que: "... como a sombra são os nossos dias sobre a terra e não temos permanência." I Cr 29.15 E assim constantemente orava ao Senhor: "Dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim, e qual a soma dos meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade. Deste aos meus dias o cumprimento de alguns palmos; à tua presença o prazo de minha vida é nada" Sl 39.4,5 A palavra "floresce" indica uma paisagem revestida de novo com o frescor da manhã, e assim, a cena humana na sua totalidade: sempre se renovando, mas sempre murchando. A vida é uma rua de mão única, e não estamos voltando.
2. Ter uma visão realista da condição humana na história.
A Palavra de Deus diz claramente sobre a condição humana na história encerrando todos sem exceção debaixo do pecado. Gl 3.22 "Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus." Diante da santa justiça de Deus o homem é golpeado pela sua ira: "Pois somos consumidos pela tua ira, e pelo teu furor conturbados." Ef 2.3 descreve a mesma situação. Esta ira nos faz: Consumidos, isto é, literalmente acabados, gastos, não sobra nada. Conturbados se emprega para um exército que enfrenta derrota total.
O Salmo ainda nos diz que somos marcados pela culpa (v.8). A culpa promove um latejamento moral na alma humana "Diante de ti puseste as nossas iniqüidades, e sob a luz do teu rosto os nossos pecados." Quanto aos nossos pecados ocultos, decerto incluem aqueles que gostaríamos de esconder até de nós mesmos.
3. Ter uma iniludível visão da Graça de Deus.
Deus já repreendeu os homens com a exclamação: "Tornai" agora o homem sábio ora a Deus com este mesmo clamor: "Volta-te par nós"- por meio da misericórdia. (V. 13)
É preciso saber que viver com sabedoria é viver na graça (v. 13-15) "Sacia-nos de manhã com a tua benignidade, para que cantemos de júbilo e nos alegremos todos os nossos dias. Alegra-nos por tantos dias quantos nos tem afligido, por tantos anos quantos suportamos a adversidade." Graça manifesta abundantemente em Jesus Cristo. Tt 2.11 afirma que a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Embora "todos os nossos dias" estejam, quanto aos nossos mérito, "na tua ira" (9), dentro da aliança, todos os nossos dias podem ser alegres. Não somente a obra de Deus há de perdurar como também a bênção dele na obra das nossas mãos.
Graça que torna eterna nossas ações finitas. Seja sobre nós a graça do Senhor nosso Deus; confirma as obras de nossas mãos, sim confirma as obras de nossas mãos. Quando vivemos em Deus, a vida aqui é uma inexpressiva centelha de tempo entre duas eternidades. Aqui temos a possibilidade do labor que "não é em vão". 1 Co 15.58. A medida de uma vida, afinal de contas, não está no tempo de sua duração, e sim, no que ela vale. Até que ponto sua falta será sentida?
Há uma lenda antiga que conta de um mercador de Bagdá que certo dia, mandou seu servo ao mercado. Dentro de pouco tempo o servo voltou, pálido e trêmulo, e, grandemente agitado, disse ao seu senhor:
- Lá na praça do mercado fui empurrado por uma mulher na multidão, e quando me virei, vi que era a Morte que me empurrava. Ela olhou para mim e fez um gesto ameaçador. Senhor, por favor, empreste-me seu cavalo, pois terei que fugir para evitá-la. Cavalgarei até Samarra, e ali me esconderei, e a morte não me achará.
O mercador emprestou-lhe seu cavalo e o servo saiu galopando com grande pressa. Mais tarde, o mercador desceu à praça do mercado e viu a Morte em pé entre a multidão. foi para onde ela estava e perguntou:
- Por que assustou meu servo hoje de manhã? porque fez um gesto ameaçador?
- Aquilo não era um gesto ameaçador, respondeu a morte. Foi apenas um sobressalto de surpresa. Fiquei atônita ao vê-lo em Bagdá, pois tenho um encontro marcado com ele hoje a noite em Samarra.
Cada um de nós tem um encontro marcado em Samarra. A vida é passageira e as oportunidades também .Mas é o motivo de regozijo, e não de medo, para aqueles que já colocaram sua confiança nAquele que é o único que segura as chaves da vida.

O Islamismo

A palavra islã deriva da quarta forma verbal da raiz sim: aslama, submeter-se" e significa "submissão (a Deus)"; muslim, muçulma­no, é seu particípio presente: "(aquele) que se submete (a Deus)".
Sendo uma das mais importantes religiões da humanidade, o islamismo está hoje presente em todos os continentes. É predominante no Oriente Médio, na Ásia Menor, na região caucasiana e no norte do subcontinente indiano, no sul da Ásia e na Indonésia, na África do norte e do Leste.
A Arábia, antes do islamismo, era território do politeísmo se­mítico, do judaísmo arabizante e do cristianismo bizantino. As re­giões do norte e do leste, atravessadas pelas grandes rotas comer­ciais, foram profundamente influenciadas pelo helenismo e pelos romanos. No tempo de Maomé, o culto dos deuses tribais havia rele­gado a segundo plano a antiga religião astral do Sol, da Lua e de Vénus. A principal divindade tribal era adorada sob a forma de uma pedra, talvez meteórica, de uma árvore ou de um bosque. Em sua honra erigiam-se santuários, apresentavam-se oferendas e sacrifica­vam-se animais. A existência de espíritos onipresentes, às vezes ma­lignos, chamados djins, era universalmente admitida antes e depois do advento do islamismo. Alá, "Deus", era venerado ao lado das grandes deusas árabes. As festas, os jejuns e as peregrinações eram as principais práticas religiosas. O henoteísmo e o monoteísmo do culto de al-Rahmãn também eram conhecidos. Grandes e poderosas tribos de judeus haviam-se estabelecido nos centros urbanos, como o do oásis de Yathrib, que mais tarde se chamaria Medina (Madina, "A Cidade"). As missões cristãs haviam feito alguns prosélitos (co­nhece-se um na família da primeira mulher de Maomé). No século VI d.C, Meca (Makka), com seu santuário da Caaba em torno do famo­so meteorito negro, já era o centro religioso da Arábia Central e uma importante cidade comercial. Durante toda a vida, Maomé deploraria suas estruturas sociais, a rudeza de seus cidadãos, suas desigualdades econômicas, sua moralidade decadente.
Maomé nasceu numa família de mercadores de Meca (família dos Hashimitas, tribo dos Curaixitas) em cerca de 570. Empobrecido ao morrerem os pais e o avô, lançou-se em empreendimentos comer­ciais. Aos vinte e cinco anos, casou-se com sua empregadora, uma rica viúva de quarenta anos, chamada Cadija. Por volta de 610, du­rante uma das meditações solitárias que ele fazia periodicamente nas grutas das proximidades de Meca, começou a ter visões e revelações auditivas. Segundo a tradição, o arcanjo Gabriel apareceu-lhe e mos­trou-lhe um livro, convidando-o a ler (Iqra'!, "Lê!"). Maomé descul­pou-se várias vezes por não saber ler, mas o anjo insistiu e o profeta ou apóstolo (rasul) de Deus conseguiu ler sem dificuldade. Deus re­velou-lhe, como aos profetas de Israel, a incomparável grandeza di­vina e a pequenez dos mortais em geral e dos habitantes de Meca em particular. Durante certo tempo, Maomé só falou sobre suas revela­ções e sobre sua missão profética às pessoas de sua intimidade, mas o círculo de fiéis foi ficando cada vez maior e a freqüência às reu­niões cada vez mais constante. Ao fim de três anos, Maomé começou a pregar publicamente sua mensagem monoteísta, encontrando mais oposição que aprovação, de tal sorte que os membros de seu clã tive­ram de dar-lhe proteção.
Nos anos que se seguiram, ele teve inúmeras outras revelações; várias delas iriam constituir a teologia do Corão. Uma das revela­ções, revogada mais tarde e atribuída a Satã, reservava o papel de intercessoras junto a Alá a três deusas locais muito populares. A medida que Maomé ia ganhando partidários, a oposição à sua men­sagem ficava mais intensa. Acusavam-no de mentir, pediam-lhe que fizesse milagres para provar sua qualidade de profeta e sua vida cor­ria perigo. Por isso, procurou novos quartéis para seu movimento, os quais lhe foram fornecidos por clãs de Medina, cidade situada a 400 km ao norte de Meca, que abrigava grande número de judeus. Os partidários de Maomé começaram a mudar-se para lá e, em 622, o próprio Maomé e seu conselheiro Abu-Bakr partiram em segredo para Medina. Esse acontecimento, chamado Hijra, "Emigração" (Hégira), marca o início da era islâmica. Mas a transposição para os anos da era cristã não é feita simplesmente pela adição de 622 ao ano da Hégira, pois o calendário religioso islâmico é lunar e só tem tre­zentos e cinqüenta e quatro dias.
Nos dez anos que passou exilado em Medina, Maomé continuou a receber revelações. Ao lado de suas palavras e ações (hadíth, que também fazem parte da tradição), essas revelações, fixadas por escri­to, constituem o conjunto do código da vida muçulmana. Durante esse período, o governo da vida religiosa de seus partidários conti­nuou ocupando Maomé, que também empreendeu numerosas expe­dições punitivas contra seus inimigos de Medina e em especial de Meca, cujas caravanas ele tomava de assalto. Essas ações levaram a uma guerra entre as duas cidades, durante a qual foram entabuladas conversações com vistas à conversão dos habitantes de Meca. Fi­nalmente, Maomé e seu exército ocuparam Meca, que se tornou o centro de orientação para a prece (qiblah) e lugar de peregrinação (hadj) de todos os muçulmanos. Depois de transformar o islamismo numa força temível, Maomé morreu em Medina, em 632, sem deixar herdeiro masculino.
A palavra Qur'ãn (Corão), de qara'a, "ler, declamar", é, para os muçulmanos, a palavra de Deus transmitida por Gabriel ao profeta Maomé, último de uma sucessão de profetas bíblicos. Trata-se, se preferirmos, de um novo "Novo Testamento", que não contradiz mas confirma e supera a Bíblia dos judeus e dos cristãos. Mas o Corão também tem, como Jesus Cristo na interpretação platonizante do Evangelho de João e dos Padres, a função de logos, de Verbo eterno do Deus criador. Maomé, porém, não assume essa função: não aceita que ela possa ser revestida por um ser humano, pois, embora eleito e sem faltas, Maomé é inteiramente humano. A maior parte de suas re­velações foi redigida por ele e por vários secretários. Depois de sua morte, existia grande número de textos e de testemunhas que lembra­vam suas palavras. O texto completo do Corão foi constituído sob os primeiros califas e suas variantes foram suprimidas. É composto por 114 capítulos chamados surahs, que contêm um número variável de versos chamados ãyãts. Os capítulos não estão dispostos em ordem cronológica ou tópica, mas na ordem inversa à sua extensão, de tal forma que a maior parte das primeiras revelações poéticas de Meca encontra-se no fim da coleção, enquanto as súrahs mais longas estão no começo. Cada surah tem um título e todas, com exceção de uma, começam com o verso chamado Basmallah: "Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso" (Ba-sm-allãh al-rahmãn ai rahim). Vá­rias delas estão marcadas com letras simbólicas, que talvez indiquem a coleção à qual pertenceram. O livro é escrito em prosa rimada e contém imagens belas e fortes.
O advento do Corão realizou sua intenção original, que era abrir aos árabes o acesso à comunidade dos "povos do livro", como os ju­deus e os cristãos, que haviam recebido a Tora e os Evangelhos. Os dois grandes temas do Corão são o monoteísmo e o poder de Deus e a natureza e o destino dos homens em sua relação com Deus. Deus é o único criador do universo, dos homens e dos espíritos; é benévolo e justo. Recebe nomes que lhe descrevem os atributos, como Onisciente e Onipotente. Os seres humanos são os escravos privilegiados do Senhor e têm a possibilidade de ignorar os mandamentos de Deus, sendo muitas vezes induzidos à tentação pelo anjo decaído Iblis (Satã), expulso do céu por ter-se recusado a adorar Adão (2, 31-33; esse episódio já é encontrado no apócrifo Vida de Adão e Eva). No dia do Juízo todos os mortos ressuscitarão, serão julgados e enviados para o inferno ou para o paraíso por toda a eternidade. O Corão reinterpreta vários relatos bíblicos (Adão e Eva, as aventuras de José, o monoteísmo de Abrão e Ismael) e grande número de exortações morais que, com as tradições referentes à vida do profeta, formam a base da lei islâmica (sharVah). A generosidade e a veracidade são re­comendadas, enquanto o egoísmo dos mercadores de Meca é conde­nado irremediavelmente. As práticas fundamentais da vida religiosa do muçulmano são as preces cotidianas (salãts), a esmola, o jejum do Ramada e a peregrinação a Meca. A fórmula do culto público muçul­mano foi fixada no fim do século VII. Cada muçulmano tem de pro­nunciar as cinco orações diárias, anunciadas pelo adhãn (convoca­ção) entoado pelo muezin do alto do minarete (manãrah). Não é necessário que o muçulmano esteja na mesquita. Onde quer que este­ja, deve primeiro praticar as abluções rituais (wudã') e depois voltar-se para a direção de Meca (qiblah), recitar frases do Corão, como a shahãdah (o credo muçulmano) e o takblr {Allãhu akbar, Deus é grande), e prosternar-se duas ou mais vezes {raka 'ãt). Na mesquita, a qiblah é marcada por um nicho chamado mihrãb. As preces comuns são feitas sob a direção de um imã. Cada sexta-feira (yawm aljum'ah), o khaúb (substituto do califa ou de seu governador), que se dirige aos fiéis do alto de um púlpito (minbar), pronuncia um sermão (khutbah) diante da assembleia dos fiéis na mesquita principal. As mesquitas não têm altar, pois não são templos sacrificais, como al­gumas igrejas cristãs, nem lugares em que são depositados os rolos santos da revelação escrita, como as sinagogas judias. Contudo, a mesquita (masjid) é um lugar sagrado; pode conter o túmulo de um santo ou relíquias do Profeta.
À reforma religiosa de Maomé seguiram-se reformas sociais e legais. É assim que a tradição muçulmana forma a base da justiça social, das regras recíprocas de comportamento dos cônjuges, dos pais e das crianças, dos proprietários de escravos, dos muçulmanos em relação aos não-muçulmanos. A usura é proibida; são proclamadas leis alimentares. A situação das mulheres melhora: elas recebem a metade da herança recebida pelos homens. A casuística corânica fixa em quatro o número de esposas permitidas, mas recomenda só ter uma. As interpretações dessa prática feitas pelos estudiosos são contraditórias.

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ELIADE, Mírcea; COULIANO, Ioan P. Dicionário das Religiões. 2a ed. Trad. Ivone Castilho Benedetti. São Paulo, SP, Ed. Martins Fontes, 2003 - Capítulo 20.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

A Igreja no Second Life


O mundo virtual trouxe para nós a possibilidade de criarmos alternativas no processo de comunicação estabelecendo vários níveis nestas relações interativas. Vários ambientes estão sendo criados num processo contínuo e sem fim. Temos ambientes de socialização, como: messengers, skype, orkut, You tube etc, onde as pessoas interagem por horas sem fim. Em alguns lares, fica mais fácil interagir com os filhos por meio destes ambientes do que na vida real.
A nova febre do momento é o ambiente virtual tridimensional chamado Second Life - SL (Segunda Vida). A empresa Linden Research Inc foi quem desenvolveu esse ambiente no ano de 2003. O SL serve como jogo, simulador, rede social e até mesmo para comércio. Baixa-se a plataforma “free” e após cadastro, você cria o seu avatar (personagem). Parece que o mundo de matrix não está tão distante da realidade. Não se sabe mais o que é mundo virtual e o que é real como se vê a seguir.
Nesta vida paralela, quase tudo é possível, desde voar até ser teletransportado para outro lugar (a distância não é problema). Você pode até mesmo ter uma outra personalidade e extravasar seus desejos mais ocultos soltando sua imaginação. Algumas pessoas relatam que a vida no SL é melhor do que na vida real. No entanto, para se fazer tudo o que se quer é preciso ganhar dinheiro virtual como no mundo real. Você pode comprar casa, carro e uma infinidade de objetos de consumo. Como o ambiente é interativo, você pode trabalhar para outros avatares, ou construir objetos como fonte de renda. Algumas pessoas optam pela prostituição no ambiente para ganhar os Lindens – a moeda do SL. Casamentos estão sendo desfeitos na vida real como no caso de um marido que descobriu que sua esposa era uma prostituta no SL. Crimes virtuais como pedofilia e racismo também presentes em outros ambientes são difíceis de ser controlados no SL.
O ambiente já conta com mais de 8 milhões de usuários que se conectam de todas as partes do mundo. A banda U2 já lançou o seu show de rock no Second Life. Grandes empresas do mundo todo, como a IBM, Sony, Warner Bros., Reebok, Adidas, Sun Microsystems, Dell e muitas outras já estão por lá. A Wolkswagem já faz propaganda dos seus carros neste ambiente, e até mesmo possui um território próprio, pois ali é possível dar os primeiros passos para uma negociação. No Brasil, a Universidade Presbiteriana Mackenzie também se inseriu como outras grandes Universidades.
Note que você pode comprar as moedas com o dinheiro real e também ganhar Linden Dollar no jogo e convertê-los no site novamente para dinheiro real, portanto o SL pode ser uma fonte de lucro muito rentável.
É possível criar grupos no Second Life convidando pessoas. Basta se aproximar de um avatar (personagem) e comunicar-se através do teclado (e também por voz, em fase de testes). É possível emitir sons pré-gravados, fazer gestos, empurrar, olhar (virar a cabeça, olhos e corpo), além de outras expressões corporais e o uso de objetos com dois ou mais personagens de uma vez.
Diante destas possibilidades podemos construir templos, ter um coral, uma equipe de louvor e até um Pastor ministrando a Palavra no ambiente. Mas, lembre-se que o local precisa ser alugado ou comprado. Um terreno comercial de auto padrão na ilha de Copacabana - RJ com 2.166m2 custa R$422,90 de aluguel mensal (rss). Para construir um imóvel você tambem terá que pagar.
Será que o "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura..." inclui o mundo virtual? O Second Life é um campo missionário para enviarmos os nossos missionários por meio de avatares para falarmos do Evangelho às pessoas que lá estão para encontrar a verdadeira vida real que é Cristo? Devemos plantar igrejas no SL? Parece loucura, mas temos que pensar a respeito. Afinal, milhares de pessoas estão interagindo nesse ambiente tentando preencher o vazio de suas vidas. Quem vai chegar primeiro?

sábado, 8 de setembro de 2007

A música sagrada de John Coltrane


Uma de minhas paixões é o Blues, principalmente acompanhado de uma gaita diatônica. Sempre amei este estilo musical e o pequeno instrumento. Depois de apanhar muito como autodidata, resolvi procurar um bom professor, o que era raro na ocasião (2001). Acabei encontrando o Robson Fernandes, um virtuose da Gaita Blues com quem tive aulas por aproximadamente 2 anos. Com Robson, conheci um vasto repertório de Blues e Jazz. Robson é aficcionado pelo saxofonista de Jazz John Coltrane que tocou com Dizzie Gileespie e Miles Davis, tanto é que o tatuou em seu antebraço. Para Robson, a música de Coltrane tem algo de místico e sagrado. Confessou que todas as manhãs ouvia uma de suas composições intitulada “A Love Supreme” como se fosse um ritual religioso. Como sou curioso por natureza, fui investigar a vida desse Gigante do Jazz. Segundo a Wikipidia , “John William Coltrane (Hamlet, 23 de Setembro de 1926 - Nova Iorque 17 de julho de 1967) atuou principalmente durante as décadas de cinqüenta e sessenta. Comumente considerado pela crítica especializada como o maior sax tenor do Jazz e um dos maiores jazzistas e compositor deste gênero de todos os tempos. Sua influência no mundo da música ultrapassa os limites do Jazz, indo desde o Rock até a Música Erudita.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Coltrane) No começo dos anos 50, Coltrane quase morreu de overdose em São Francisco EUA. "Trane" foi alcançado pela graça, conheceu a Cristo e se recuperou das drogas. Algumas de suas melhores composições de jazz aconteceram depois de sua conversão, incluindo “A Love Supreme” (1964). Segundo o próprio Coltrane, o instrumental é um ardente derramar de ações de graças a Deus pela sua bênção e oferecimento de sua alma. Conta-se que depois de uma apresentação extraordinária dessa composição, Coltrane disse: “Nunc dimittis”. São as palavras em latim do começo da oração de Simeão “Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra, porque os meu olhos já viram a tua salvação.” (Lc 2.29,30). Coltrane afirmou que jamais poderia tocar novamente essa composição com tamanha perfeição. Para ele, se sua vida inteira tivesse sido vivida para aqueles trinta e dois minutos de oração e louvor em forma de jazz, teria valido a pena. Ele estava pronto para morrer. Ele morreu 3 anos depois (1967). Hoje, existe uma igreja chamada "Saint John Coltrane Church" em São Francisco. Seus membros, na maioria músicos de jazz, tocam suas composições durante os cultos. (http://www.coltranechurch.org/) Não é estranho portanto que a música falou ao coração de Robson e serviu de ponte para que eu lhe falasse do Amor Supremo de Deus. Não posso afirmar que ele se entregou a Cristo, todavia a música de John Coltrane vai soar aos seus ouvidos para o resto de sua existência como uma doce melodia do amor de Cristo.
Linkei no meu blog vídeos de John Coltrane. Vale a pena ouvir.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Ron kenoly no Guarujá


Ron Kenoly (nascido em 6 de Dezembro , 1944 em Coffeyville, Kansas) é um Líder Cristão de Adoração com o propósito de “criar um ambiente de adoração" Seu estilo musical é de um louvor alegre com instrumentos musicais diversificados. Embora ele mesmo não toque na maioria de suas gravações, ministra com muito feeling sempre acompanhado de uma equipe de grandes instrumentistas e de um magnífico coral.
Possui uma extensa graduação: Música pelo Alameda College, Mestre em Divindade pelo Faith Bible College e Doutorado em Ministério em Música Sacra pelo Friends International Christian University.
Sua carreira musical música começou no tempo em que serviu na Força Aérea dos Estados Unidos. Inicialmente o grupo se chamava Shades of Difference, mas por causa de sua família precisou deixar o grupo. Seu sucesso veio em 1992 com Lift Him Up que se transformou no álbum de adoração mais vendido. Welcome Home também foi aclamado pela crítica. Ele também ganhou o Gospel Music Association Dove Award com o álbum Praise and Worship em 1997.
Começou a trabalhar de tempo integral no ministérioem 1985. Começou como um líder da adoração no Jubilee Christian Center em San Jose, Califórnia. Não muito tempo depois, em 1987, foi ordenado Pastor da Música (Ministro de Louvor).
Em 1993, após o sucesso de 2 gravações do Integrity, começou receber convites de todas as nações do mundo. Igrejas não somente queriam ouvi-lo cantar e ministrar o louvor, mas tambem pediam para ajudá-las a desenvolver seus departamentos de música e adoração.
Assim pouco depois, foi nomeado embaixador da música do Jubilee Christian Center. Foi enviado por todo o mundo como um embaixador para ajudar as igrejas desenvolverem e encontrar o equilíbrio entre a adoração e a Palavra. Em 1996, recebeu seu Doutorado no Ministério em Música Sacra. Em 1999, mudou-se da Califórnia para a Costa Leste. Assim, fincou seu QG na Florida central onde continua a viajar, falar, cantar e ensinar e gravar. Esteve na cidade do Guarujá em 17 de Agosto de 2007.

Magic Slim


Magic Slim é um dos principais representantes vivos do blues de Chicago. Guitarrista e cantor, Magic nasceu em Torrence, Mississipi em 7 de agosto de 1937.
Brilhante expoente da corrente tradicional do blues sulista, sem alterações impostas pelas leis do mercado. Após várias alternativas profissionais, a partir de 1962, enraizou-se nos movimentos bluesy de Chicago e revelou-se como um dos mais sensíveis intérpretes. Em 1991, obteve um Grammy por seu álbum Live On Stage. Esteve em maio de 2007 se apresentando no SESC de Santos acompanhando o grupo Blue Jeans que comemorou 20 anos de formação. O Blue Jeans é formado por - Marcos Ottaviano na guitarra, Junior Moreno na bateria, gaita e vocal, e Andrei Ivanovic no baixo

Jesus: O Mestre por excelência


Olhando para o ministério de Jesus, observa-se que o “Mestre por Excelência” priorizou o ensino no seu ministério com ênfase no Reino de Deus. Alguns fatos importantes são relacionados por Price (1980, p. 15):
Jesus era reconhecido como Mestre.
Ele foi chamado Mestre, Professor ou Rabi; e tudo isto traz em seu bojo a mesma idéia geral expressa por Nicodemos quando disse: Rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus (Jo 3.2). Nos Evangelhos, Jesus é chamado mestre nada menos de quarenta e cinco vezes, e nunca se fala nele como pregador. Somando-se os termos equivalentes a mestre temos o total de sessenta e um.
Fala-se de Jesus ensinando, quarenta e cinco vezes, e onze vezes apenas pregando, e, assim mesmo, pregando e ensinando, como vemos em Mateus 4.23 “ensinando em suas sinagogas e pregando o evangelho do reino”.
Jesus se intitulava mestre.
‘Vós me chamais mestre; e dizeis bem, porque eu o sou” (João 13.13). Também dizia ser “a luz”, vocábulo que traz a idéia de instrução. (PRICE, 1980, p. 16).
A terminologia empregada aos seus seguidores também ressalta a sua ênfase educacional.
A palavra “cristão” só é empregada três vezes em o Novo Testamento para caracterizá-los e assim mesmo uma vez como zombaria (At 11.26). No entanto, vemos a palavra “discípulo”, que significa aluno ou aprendiz, empregada 243 vezes, para referir-se aos seguidores de Jesus (PRICE, 1980, p. 16).
Jesus preparou um grupo de mestres para que levassem avante a sua obra.
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”.Mateus 28.19-20.
Percebe-se que o tema central da pregação e da vida de Jesus foi o Reino de Deus. “E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 9.35).
Somente nos evangelhos encontra-se mais de 80 menções ao Reino de Deus nos ensinos de Jesus. A expressão “Reino de Deus” é citada apenas duas vezes no evangelho de João. No entanto, é mencionada 14 vezes no evangelho de Marcos e, 31 vezes no evangelho de Lucas. Mateus faz 3 menções, preferindo, em vez dela, a expressão Reino dos Céus, da qual faz uso 30 vezes. Entretanto, a palavra Céu (s) é empregada em Mateus como um sinônimo reverente para Deus.
Portanto, o Reino foi a ênfase de sua pregação, ensino e missão. “[...] É necessário que eu anuncie o evangelho do Reino de Deus [...] pois para isso fui enviado” Lc 4.43.
Ao convocar os discípulos Jesus os enviou para pregar o Reino de Deus (Lc 9.2). Durante os 40 dias após a sua ressurreição, Lucas relata que Jesus falou das coisas concernentes ao Reino de Deus aos apóstolos (At 1.3). Em resposta obediente ao ensino de Jesus, foi este o conteúdo do ensino dos primeiros cristãos (ver At 8.2; 14.22; 19.8; 20.25). Lucas encerra o livro de Atos, afirmando que Paulo permaneceu em sua própria casa que alugara, pregando e ensinando o Reino de Deus com toda a intrepidez (At 28.23,31).
Enfim, a didaskalia(1) , sendo ministério de ensino, propicia ao ser humano desenvolvimento, crescimento e conseqüentemente pode conduzir ao Reino de Deus. O propósito da Igreja de Cristo deve estar voltado, assim, a uma pedagogia que direcione as pessoas para o Reino de Deus e Cristo como Senhor e Salvador.
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(1) Segundo Thomas Groome, Didaskaloi era um ministério eclesiástico na igreja primitiva (At 13.1; 1 Co 12.28-29; Ef 4.11) que consistia tanto em conhecer a sã doutrina (2Tm 4.3) como em ensiná-la. Neste sentido, os didaskaloi eram a um tempo teólogos e educadores.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GROOME, Thomas H. Educação Religiosa Cristã. Trad. Alcione Soares Ferreira, São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
PRICE, J. M. A Pedagogia de Jesus. Trad. de Waldemar W. Wey, Rio de Janeiro: JUERP, 1980.
REMBRANDT. The Return of the Prodigal Son. ca 1668/69. Oil on canvas. The Hermitage, St. Petersburg, Russia.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Reflexões no Salmo 127


Quando o lar é um doce lar.
Recentemente, li em um adesivo de automóvel estas palavras: “Nenhum sucesso compensa o fracasso no lar.” Recentemente em um programa apresentou-se a estatística de que 71% dos entrevistados tinham problemas na vida conjugal e 82% das mulheres se declararam insatisfeitas com o casamento.
Há uma fábula que retrata bem este fato: Diz que três mocinhas estavam no inferno e resolveram fazer uma ligação telefônica para as famílias. A primeira ligou, e contou para a sua mãe como estava lá, como era quente, como era feio,... falou... falou Quando terminou passou no caixa e pediu a conta. A telefonista cobrou R$ 1.200,00.
A segunda da fila, foi, falou... falou... Contou pra mãe quem tinha encontrado ali... falou... falou... Ao sair procurou a moça do caixa e foi pagar o seu interurbano R$ 3.500,00.
Veio a terceira. Conversa com seus familiares mais tempo que as outras. Falou um bom tempo com o pai, mãe, irmão... Ao sair esperava ser cobrada de uma taxa maior. Para sua surpresa, a telefonista acionou o sistema e não veio valor nenhum, “é de graça.”
As outras disseram: “De graça não pode, falou mais do que todas nós.” Procuraram o gerente da Teleinferno que foi logo explicando - "É que ligação local não cobramos."
É que a casa da terceira moça era um inferno. E quantas casas não se identificam bem com o inferno? São semelhantes aos abrigos dos animais: apenas meios de proteção contra o mau tempo.
A Bíblia nos ensina que o lar pode ser doce em vez de amargo, agradável em vez de pesaroso. Porém, não há possibilidade de estabelecer uma família sem as bases de Deus. Se nós não soubermos o que Ele como Arquiteto tem a dizer a respeito do lar, a família será um fracasso, um inferno.
No entanto, o lar pode ser doce quando:
1. Quando Deus é o Arquiteto da Casa. “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam...”
Toda casa precisa ser bem construída. E uma boa construção começa com um alicerce bem firme. Não adianta ter uma mansão ampla e bem decorada, com um belo jardim e uma piscina na frente, mas sem alicerce. Você moraria em um lugar assim?
Quando se trata de construir famílias, só Deus pode ser o engenheiro, o arquiteto e o construtor. Somente ele pode edificar uma casa estável e segura. E para isso Ele nos dá a planta desta construção que é sua Palavra que deve ser ouvida e obedecida (VER Mt 7.24-27) . Quando o homem tenta edificar por sua própria sabedoria sua casa certamente acabará em tragédia e ruínas.
2. Quando Deus é o Protetor da Casa. “Se o Senhor não guardar a cidade em vão vigia a sentinela...”
Uma grande preocupação da sociedade em nossos dias é a segurança. Parece que nossas casas se transformaram em verdadeiras prisões. São grades, correntes, alarmes contra tudo.
As lojas contratam seguranças particulares, os bairros tem vigias particulares que fazem a ronda noturna, nossa igreja tem alarme instalado. Você estaciona o carro e tem que dar gorjeta para o flanelinha. Até nas nossas igrejas contratamos seguranças para vigiar os carros durante o culto.Estamos vivendo uma crise de insegurança.
No entanto o texto é claro não existe segurança na família sem Deus. Gosto do Sl 121.4 quando diz: “É certo que não dormita nem dorme o guarda de Israel”
Se a segurança do mundo falha, a divina não. A Bíblia diz que o guardião divino, não pestaneja, não cochila, não dorme. É por isso que o Salmista diz: “Deito-me e pego no sono; acordo porque o Senhor me faz repousar seguro.” Sl 3.5
3. Quando Deus é o Provedor da Casa. “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem”
Diz a sabedoria popular que "O pouco com Deus vale mais do que o Muito sem Deus." Vejam o que diz o Sl 127.2. Nossos investimentos são bem sucedidos quando somos orientados por Deus.
Já vi muita gente dizer que a sua vida está muito bem, porque é trabalhador, levanta cedo e não perde hora de serviço. O Texto descreve uma pessoa com estas características, mas que falta o principal: “Deus como provedor”.
Temos visto pessoas bem empregadas com um salário invejável, que no entanto estão atolados em dívidas, com nome sujo na praça. Enquanto outros que vivem com um ou dois salários observam o milagre da multiplicação dos pães diariamente em suas casas.
O texto não está falando de indolência e preguiça, como aquele cristão que foi encontrado dormindo em avançada hora do dia. Perguntaram-lhe: “Não vai trabalhar hoje?" Ao que respondeu: “Aos seus amados Ele o dá enquanto dormem.”
No entanto o texto sugere duas maneiras de agir: O homem que faz um esforço tremendo confiando no seu próprio poder; e o segundo, de persistente trabalho, confiando em Deus.
4. Quando Deus é o Educador da Casa. Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre seu galardão. Como flechas não mão do guerreiro assim os filhos da mocidade. Feliz o homem que enche deles a sua aljava; não será envergonhado quando pleitear com os inimigos à porta.
Não há duvida que marido e mulher forme um casal, mas marido, mulher e filhos formam uma família. E a palavra nos diz que os filhos são herança, presente de Deus para o casal. Se for assim muitos diriam: “É presente de grego porque tem cada filho.”
Mas a palavra também subentende que Deus deve ser o educador, o pedagogo da família. O apóstolo Paulo afirma positivamente em Ef. 6.4 “... criai-os na disciplina e admoestação do Senhor”. Não basta levar o filho na Escola dominical, mas criá-los na admoestação do Senhor.
Gosto deste Salmo porque compara os filhos criados no Senhor como flecha nas mãos do guerreiro. O guerreiro era alguém hábil no manejo do arco e flecha, e que burilava bem suas flechas. No tiro era certeiro, não errava, acertava na mosca. De forma poética a palavra nos diz que os nossos filhos quando atirados ao mundo não errarão o alvo.
E ainda serão motivo de orgulho e alegria, em contraste com a criança entregue a si mesma que é vergonha para sua mãe...” Pv 15.15
As escrituras dizem que tem um dia que o inimigo vem e bate a nossa porta, mas não entra, porque os filhos não nos trazem vergonha. Os nossos filhos estão firmes em Deus. O sábio Salomão falou acertadamente: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviara dele.” Pv 22.6. O diabo não terá poder para conduzi-la por seus caminhos perversos.
Li a seguinte história: A mãe perguntou para sua filha de 5 anos o que esta faria se o diabo batesse na porta de casa. A criança respondeu: “Eu peço para Jesus atender a porta”.
É isso mesmo. Se quisermos que o lar seja doce e feliz, Deus tem que estar na frente. Se formos atender a porta o inimigo entra. Portanto deixemos Deus construir, proteger, prover e educar nossa família.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

João Calvino - Instrução na Fé


Instrução na Fé – Princípios para a vida cristã
Escrito em 1537 por João Calvino, em forma de resumo das Institutas da Religião Cristã a pedido de Guilherme Farel. Tem por objetivo fortalecer a Reforma Protestante em andamento naqueles dias, bem como, expor de forma clara e concisa a fé ao povo comum.
O livro está dividido em seis partes germinantes e congruentes. A primeira trata do Conhecimento de Deus e de nós mesmos, sendo que, tal conhecimento pode se dar pelas obras da criação, contudo, por causa do pecado que nos cega, faz-se necessário o estudo da Palavra de Deus para a compreensão verdadeira da criação, providência, bondade, misericórdia e justiça de Deus. O capítulo também mostra que o conhecimento de Deus leva ao conhecimento de nós mesmos como seres criados à imagem e semelhança de Deus, caídos no pecado e sujeitos à ira e a retribuição de Deus. Tal conhecimento revela a nossa miséria e desperta em nós um profundo desejo de Deus.
A segunda parte apresenta a lei de Deus como padrão perfeito de toda a justiça. Calvino faz uma interpretação de cada um destes mandamentos, e dá o resumo da lei apresentado por Jesus Cristo. Conclui o capítulo, afirmando que o que herdamos unicamente da lei é este padrão perfeito da retidão de Deus, sendo que por causa da nossa miséria, somos incapazes de nos salvar. A lei condena, mas é também uma preparação para nos achegarmos a Cristo.
Na terceira parte, Calvino demonstra que compreendemos a Cristo através da fé, sendo estes, os eleitos e predestinados por Deus, doutrina esta que devemos contemplar com confiança. Trata também da verdadeira fé que vai além do simples conhecimento de Deus, sendo uma confiança firme na misericórdia d’Ele prometida no evangelho. Enfatiza ainda, a verdade bíblica de que a fé é dom de Deus, que somos justificados em Cristo pela fé e que também, santificados pela mesma, temos por finalidade obedecer a lei. Calvino liga o arrependimento e a regeneração a fé no nosso Senhor Jesus Cristo. Apresenta a relação entre a justiça das obras e a justiça da fé. O Reformador Genebrino também faz uma exposição do Credo dos Apóstolos o qual chama de “Símbolo da Fé”. Conclui a seção com a afirmação de que a esperança é a expectativa das coisas que a fé creu como sendo verdadeiras promessas de Deus.
A quarta parte trata da oração, sua necessidade e seu sentido. Calvino faz uma exposição da oração ensinada por nosso Senhor Jesus Cristo e conclui com a necessidade de perseverarmos na prática da oração.
Na quinta parte Calvino trata dos sacramentos, batismo e ceia, sinais externos que testemunham da graça de Deus. Explora seus significados e benefícios para nossa vida como meio de graça.
A sexta parte trata da Ordem na Igreja, os pastores, responsáveis pela administração dos sacramentos e pelo ensino, devendo estes resistir àquelas tradições humanas que obscurecem a verdadeira religião. Enfatiza que a igreja deve excomungar aqueles que são abertamente pecadores impenitentes, para o bem dos mesmos e para que a mesma não se contamine. Trata também da sociedade e do magistrado que foi instituído pelo próprio Deus, devendo seus súditos honrá-los e interceder por eles, suportando injustiças da parte dos mesmos, desde que não nos ordenem a fazer algo contra Deus e sua vontade (At .19).
A leitura deste livro é de grande importância para uma introdução e e compreensão do pensamento de João Calvino. Embora resumido no seu conteúdo em relação às Institutas da Religião Cristã, o texto se apresenta com grande profundidade. Não só apresenta a essência

Educare: peregrinos no tempo...


O termo “educação” procedente do latim educare (e seu cognato educere) significa “guiar, conduzir”, e o prefixo “e” pode ser traduzido por “para fora”. Em seu significado elementar, educação é a atividade de “conduzir para fora”. Libâneo (1985, p.97) define educação como: “educar (em latim, educare) é conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa direção o que é sucestível de educação”.
Encontram-se três aspectos distintos no significado básico de “conduzir para fora”: 1) a partir de um dado ponto, 2) um processo presente, e 3) um futuro em direção ao qual se efetua o “guiar para fora”. Sendo assim, a educação tem uma dimensão de “já”, uma de “ser concebida” e uma de “ainda não”.
O primeiro aspecto “já”, expressa tanto o que o aprendiz já sabe, como o que o educador sabe e o aprendiz tem capacidade interior de aprender. É o que John Dewey (1971, p. 19) chamou de “o capital consolidado da civilização” e parte da tarefa educacional é assegurar a conservação dessa herança, tornando-a disponível para as pessoas no presente.
O segundo aspecto, o de “um processo presente que está sendo concebido”, enfatiza não o que já está lá, mas aquilo que está sendo descoberto pelos alunos e educador na experiência do dia-a-dia. Entende-se que o tempo presente é de um processo ativo de reflexão e experimentação. É também como o tempo do compromisso imediato com a vida, pois o tempo presente não é meramente para redescobrir o já sabido; porém, acrescenta algo ao legado do conhecimento. O educador reformado Comenius, o Pai da didática moderna t oma a natureza criada como analogia para estabelecer princípios em que se fundamenta a solidez no ensinar e no aprender e afirma que a solidez é obtida “se tudo o que é posterior se fundamentar no que for anterior” (COMENIUS, 2002, p.184). E na escola, conclui que “todos os estudos devem ser organizados de tal modo que os estudos sucessivos sempre se baseiem nos precedentes e estes sejam consolidados por aqueles” (COMENIUS, 2002, p. 194).
O terceiro aspecto é o do “ainda não”, um guiar para fora rumo a um saber ainda não realizado. Se quisermos ter um futuro aproveitável, devemos educar com esta finalidade. Não é só uma preocupação pelo futuro do estudante, o futuro é aberto também para o educador, logo, uma preocupação do educador em relação ao futuro de toda a comunidade. Educamos para garantir que todos nós possamos ter um futuro. Para Paulo Freire (1982, p. 51), em Ação Cultural para a Liberdade a preocupação com o futuro é a dimen­são utópica da educação. Ele quer com isto dizer que a educa­ção não deve permitir que as pessoas se moldem pelo que já são, mas deve levá-las a construir um mundo melhor.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COMENIUS, João Amós. Didática Magna. Trad. Ivone Castilho Benedetti, 2ª ed. São Paulo; Martins Fontes, 2002.
DEWEY, John. “My Pedagogic Creed”. In D ewey on Education. Compilado por Martin S. Dworkin. Classics in Education No 3. New York: Teachers College Press, 1971.
FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico social dos conteúdos. São Paulo, Loyola, 1985.

O Deus que se Revela


Antes do século dezessete, ficou reconhecido que a filosofia e a teologia lidavam com as mesmas perguntas básicas. A única diferença entre as duas disciplinas era que a filosofia refletia e argumentava sobre essas perguntas básicas em grande parte sobre a razão e a revelação natural, enquanto a teologia refletia e argumentava principalmente sobre a revelação especial. Na Idade Média, foi dito que a filosofia servia como um instrumento da teologia. A Teologia foi estabelecida como a rainha das ciências. Quando a filosofia tomou a frente, logo ficou claro que ela não estava à altura de responder as perguntas básicas da vida. Somente a realidade da existência de Deus conhecida pela revelação dEle, provê as respostas para estas grandes questões. Schaeffer defende nesta obra que o homem tem uma necessidade filosófica de Deus existir e não estar em silêncio em três áreas: em primeiro lugar a metafísica que trata do Ser, da Existência; em segundo lugar da moral e o terceiro campo da epistemologia – o problema do conhecimento. Estas são três áreas que a filosofia tem que lidar e são, respectivamente: o problema da existência, o problema do comportamento moral de homem e como o homem poderá “vir a saber e como podemos saber que sabemos”. O ser humano é incapaz de viver sem uma visão de mundo. Daí, a necessidade metafísica da existência de Deus. Tal necessidade demonstra que deve haver algo ou alguém que é tão grande, poderoso, sábio o suficiente e desejoso de criar e manter o universo em que vivemos. Se estas exigências não são satisfeitas, então o homem é forçado a admitir que ele está aqui por casualidade e que, conseqüentemente, não tem nenhum destino especial. A necessidade moral da existência de Deus centraliza o homem como um ser pessoal que distingue entre o certo e o errado. Só há duas opções: Ou o homem foi criado de um começo impessoal e o seu sistema moral é um produto da cultura dele, ou o homem teve um começo pessoal e lhe foi dado determinadas leis para seguir e um senso interior do certo e errado. A necessidade moral de Deus está fundamentada na necessidade filosófica de considerar por que o homem é ao mesmo tempo cruel e maravilhoso. Isto só pode ser explicado em termos do fato bíblico da queda. A necessidade epistemológica da existência de Deus direciona nossa habilidade para saber o que no final das contas é real. A maior parte do problema moderno na área de conhecimento começou no século dezessete. Com o desenvolvimento da revolução científica, os critérios para a verdade passaram a ser o que poderia ser demonstrado em um laboratório. O resultado foi que a crença em Deus e no milagre não podiam ser demonstrados em um laboratório, sendo assim abandonados por muitos. O resultado final foi o pessimismo e o desespero que considera as verdades teológicas e, mais recentemente, qualquer verdade com não sendo absoluta. Schaeffer responde; “Existiu um período anterior à queda, e então o homem desviou-se do seu ponto de integração apropriado, por sua escolha; e, assim procedendo, houve uma descontinuidade moral – O homem tornou-se anormal. Se removermos este fato, toda e qualquer resposta que se possa dar ao homem e ao seu dilema moral, também estará extinta, bem como o cristianismo bíblico e histórico. A única resposta para estes três dilemas é um apelo ao Deus que está aqui, e para a sua revelação natural e especial. A base do Cristianismo é a convicção que o Deus Trino está aqui, se revela a nós e que o homem pode comunicar-se com Ele. Se isto não for verdade, então nós estamos sem nenhum fundamento. A obra de Shaeffer é de grande importância em pelo menos três aspectos: Primeiro, diante da necessidade básica de todos os seres humanos em saber as respostas às grandes perguntas da vida, Schaeffer demonstrou que Deus deu para o homem as respostas na forma de revelação natural e especial. Segundo; Schaeffer demonstrou que a fé Cristã não só é a verdade, mas que é a única resposta plausível para a existência do homem e o seu lugar no universo. Ele também demonstrou que uma fé irracional não é o que Deus pretendeu comunicar. Terceiro, Schaeffer era um verdadeiro profeta que enxergou no seu tempo o que outros não conseguiam enxergar. Ele viu que o gênero humano, cristãos e não -cristãos, estavam perdidos num mar de irracionalidade. Ele percebeu que a verdade do Cristianismo ortodoxo estava se perdendo em meio à teologia liberal e o resgatou. Deus existe de fato e falou conosco através da Bíblia, revelou a verdade sobre o mundo, sobre si mesmo e sobre o homem.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O que é Arte?


Por estar relacionada com a vida e a necessidade do homem se expressar, o conceito de arte parece ser de grande complexidade. Gombrich (1999, p. 15) afirma que “nada existe realmente a que se possa dar o nome Arte“. Para o mesmo existe apenas o artista e deve-se estar consciente de que tal palavra pode significar uma diversidade de coisas em épocas e lugares diferentes.
Para Coli (2005, p.7), dizer o que seja arte é coisa difícil, já que inúmeros tratados sobre estética são contraditórios.
O termo “arte” ou “obra de arte pode ser usado no sentido classificativo ou valorativo. No sentido classificativo, não está em jogo se uma determinada obra de arte é boa ou não, mas pretende-se apenas firmar se um determinado objeto ou produção se classifica como obra de arte. O sentido valorativo tenta expressar o valor positivo ou negativo, bom ou ruim de uma obra de arte.(1)
Para alguns, a arte pode ser sinônimo de beleza, estando relacionada à Estética.(2) Reis (1987, p. 9) define a obra de arte como todo trabalho que nos emociona por sua perfeição, beleza e originalidade.
No entanto, ficam muitas dificuldades: primeiro, o conceito do que é belo e perfeito varia segundo a época, a cultura e a subjetividade do artista. Segundo, o conceito de belo é muito subjetivo para quem contempla a obra de arte, pois o que pode ser belo para uma pessoa, pode não ser para outra, o que alguns chamam de teoria do gosto.(3)
Sobre isso, Gombrich (1995, p 16) escreve: Na realidade, não penso que existam quaisquer razoes erradas para se gostar de uma estátua ou de uma tela. Alguém pode gostar de certa paisagem porque esta lhe recorda a terra natal, ou de um retrato porque lhe lembra um amigo. Não há nada de errado nisso. (...) Só quando alguma recordação irrelevante nos torna preconceituosos, quando instintivamente voltamos as constas a um quadro magnífico de uma cena alpina porque não gostamos de praticar o alpinismo, é que devemos sondar o nosso íntimo para desvendar as razões para a aversão que estragam um prazer que, de outro modo, poderíamos ter tido. Existem razões erradas para não se gostar de uma obra de arte.
Uma terceira dificuldade que encontramos é: será que o belo é elemento indispensável para que uma produção artística seja considerada arte?
Beleza é uma percepção individual caracterizada normalmente pelo que é agradável aos sentidos. Mas fica difícil definir que belo é aquilo que é agradável aos sentidos. Aquilo que é desagradável aos sentidos também pode ser belo. Podemos citar como exemplo a tela de Edvard Munch “O Grito” e suas evoluções considerado como uma das obras mais importantes do movimentoexpressionista. Um crítico da época considerou o conjunto tão perturbador que aconselhou mulheres grávidas a evitar a exposição. A reação do público, no entanto, foi a oposta e o quadro tornou-se em motivo de sensação.
Um registro de seu diário expressa bem o espírito de angústia do artista. Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a vedação – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza (WIKPÉDIA).
As teorias essencialistas(4) sobre conceituação de arte, defendem que existe uma essência de arte, ou seja, que existem propriedades essenciais comuns a todas as obras de arte e que só nas obras de arte se encontram. As teorias essencialistas se dividem em três grupos: imitação, expressão e significante.
A teoria de arte como imitação entende que uma obra de arte só é arte se essa obra imita algo. No entanto, encontramos na pintura, na escultura abstrata e em outras artes visuais não figurativas, obras de arte que não imitam nada.
São as duas últimas que chamam a nossa atenção nessa simples tentativa de refletir o que seja arte relacionada com a estética como belo, perfeito e agradável aos sentidos.
A teoria da arte como expressão, afirma que uma obra é arte se exprime sentimentos e emoções do artista. Porém, há obras que não exprimem nenhum sentimento ou emoção no observador. O que dizer da chamada música aleatória (música feita com o recurso a sons produzidos ao acaso)? Além disso, mesmo que uma obra de arte provoque certas emoções em nós, daí não se segue que essas emoções tenham existido no seu autor (ALMEIDA).
E por fim, a teoria da arte como forma significante que afirma que uma obra é arte se provoca nas pessoas emoções estéticas. Esta teoria, defendida, entre outros, pelo filósofo Clive Bell, tem como ponto de partida o sujeito sensível que aprecia a obra de arte. Essa teoria apresenta uma enorme dificuldade, pois algumas pessoas não sentem nenhuma emoção ou significado diante de uma obra de arte que é considerada arte. Novamente estamos diante do subjetivismo do sujeito observador. Também fica a dificuldade de definir o que seja uma emoção estética. Seria uma combinação de cores e linhas na obra de arte como quer Clive Bell? E em que consiste a forma significante na música, na literatura, no teatro, etc.?
Pelo que se vê nenhuma teoria ou conceito tem um caráter completo e satisfatório.
Parece melhor, como faz Coli (2005, p. 131), refletir sobre arte na perspectiva da relação expectador-obra. O termo tem um caráter subjetivo, pois qualquer coisa pode ser chamada de Arte, desde que alguém a considere assim, não precisando ser limitada à produção feita por um artista. Esta percepção depende do contexto e do universo cognitivo do indivíduo que a observa.
A arte também é um fenômeno cultural, portanto sempre em movimento no decorrer da história. Logo, não há como estabelecer um conjunto de regras absolutas sobre a arte, pois o conjunto de regras não vai sobreviver ao tempo, mas em cada época, diferentes grupos (ou cada indivíduo) escolhem como devem compreender esse fenômeno.
Existe também uma variedade de conceitos do que seja beleza e perfeição entre indivíduos de um mesmo contexto histórico e geográfico. Associar arte ao conceito belo como aquilo que é agradável, também fica na superficialidade.
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[1] Estes dois usos são frequentemente confundidos e é imprescindível tê-los em mente quando se discutem as diferentes teorias da arte.
[2] Chama-se Estética a ciência do belo. A palavra estética é de origem grega e significa “teoria sobre a natureza da percepção sensível”. Estética é a disciplina filosófica que se ocupa dos problemas, teorias e argumentos acerca da arte.
[3] Aires Almeida entende que a Estética só pode ser compreendida por meio da filosofia da arte. Este crítico apresenta três argumentos para tal compreensão: Em primeiro lugar, tanto a teoria do belo como a teoria do gosto dirigiram o seu interesse de forma particular para as obras de arte. Para além do problema de saber o que é o belo, um dos problemas colocados pela teoria do belo foi o da distinção entre o belo natural e o belo artístico. No mesmo sentido também os defensores da teoria do gosto procuraram compreender porque é que a arte está na origem de grande parte dos nossos juízos de gosto. Em segundo lugar, a teoria do belo e a teoria do gosto não conseguem dar conta de muitos dos problemas que se colocam com o conceito de arte. É o caso das obras de arte que dificilmente podemos considerar belas e daquelas de que não gostamos mas não podemos deixar de considerar obras de arte. Em terceiro lugar, o desenvolvimento da arte consegue levantar problemas acerca dos conceitos de belo e de gosto que estes não conseguem levantar acerca da arte. Isso torna-se evidente quando, por exemplo, os gostos e a própria noção de belo se podem modificar à medida que contactamos com diferentes obras de arte (a idéia de que a arte educa os gostos e influencia a nossa própria noção de belo.
[4] Entende-se por teoria essencialista um conjunto de idéias de arte intuitivamente partilhada por muitas pessoas.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALMEIDA, Aires. O Que é Arte? Três teorias sobre um problema central da estética. Disponível em http://criticanarede.com/fil_tresteoriasdaarte.html, acesso em 07/12/2006
COLI, Jorge. O que é Arte. 15ª ed., Editora Brasiliense, São Paulo – SP, 1995
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Trad. Álvaro Cabral. 16ª ed. LTC – Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro – RJ , 1999.
REIS, Sandra L. de Freitas. Educação Artística; introdução à história da arte. Belo Horizonte, 1987.
Wikipedia. http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_(Edvard_Munch) – Acesso em 07/12/2006.