sábado, 13 de outubro de 2007

Crescimento das igrejas cristãs negras e as primeiras oposições ao Holy Blues

Um grande despertamento religioso espalhou-se pela América nos primeiros anos do século XIX, caracterizado pelas grandes reuniões ao ar livre (camp meetings), de uma semana de duração e em zonas arborizadas, onde os crentes pregavam, oravam e cantavam. A presença negra (e seu entusiasmo) nessas reuniões geralmente superava a dos brancos. Um observador de uma reunião celebrada em 1838 na Pensilvânia, onde compareceram sete mil pessoas, queixava-se que seus gritos e cantos eram tão buliçosos que o canto da congregação branca frequentemente ficava abafado pelos ecos e reverberações dos tumultuados sons da gente de cor. Os fiéis eram arrastados pela corrente de êxtase coletivo similar a experimentada um século depois nas Igrejas Pentecostais. As canções camp meeting, que formaram parte significativa de uma tradição «spiritual» transmitida oralmente, se configuraram nesse momento.
Nem todas essas canções teriam sido do agrado dos senhores brancos se as tivessem entendido. Em 1830, um visitante escocês, Peter Neilson, assinalou sobre os cantos spirituals negros: A queda de Satã constitue o tema principal dos seus hinos”. O hino que Neilson escutou, «Satan, Your Kingdom Must Come Down», seria gravado quase um século depois por Blind Joe Taggart. O momento da observação de Neilson e as entrelinhas ligeramente dissimuladas da canção (a verdadeira identidade do diabo) são dignas de destaque.
Um ano mais tarde, em 1831, a insurreição de Nat Turner se estendeu ao condado de Southamptom, Virginia. O governador desse estado, Floyd, disse à assembléia legislativa do estado: “Os incendiários mais ativos que existem entre nós... são os pregadores negros”. Nos dias seguintes a emancipação, um sobrevivente dos tempos do velho profeta Nat, CharityBowery, cantou um hino para um pesquisador:

There's a better áay a-coming Se avizinham tempos melhores
There's a better day a-coming Se avizinham tempos melhores
Oh, Glory, Haalelujah! Glória, aleluia!

“Não queriam nos deixar cantar isso” , recordava Bowery dos dias tensos posteriores a revolta de Turner. “Pensavam que iríamos criar uma rebelião só porque cantávamos ‘Se avizinham tempos melhores’ “.
No outono seguinte ao ressoar dos canhões em Fort Sunter, uma mulher branca chamada Mary Boykin descrevia no seu diário uma visita a uma igreja negra em uma plantação do estado de Carolina do Sul. O pregador “batia palmas ao final de cada frase e sua voz subia até alcançar o tom de um grito agudo, não deixando de ser claro e musical, às vezes em um tom mais baixo, queixoso, que chegava ao coração. Logo depois de um ofício de caráter estático, cheia de um ardor piedoso na voz, a congregação rompeu a cantar um dos seus comovedores hinos negros. Para mim é a música mais triste de todas as músicas da Terra, extranha e deprimente e muito além da minha capacidade para descrevê-la”.
Durante a guerra civil, 186.000 soldados negros serviram no exército da União como os da «United States Colored Troops*». Apesar de que o exército ainda era segregador, os soldados brancos e negros mantiveram um contato sem precedentes, que deu como resultado, um amplo conhecimento, a escala nacional, das canções afro-americanas. O coronel Thomas W Higginson do regimento de voluntários da Carolina do Sul, escreveu um livro de memórias, Army life in a Black Regiment, onde descreveu a música que escutou nos acampamentos de soldados negros: O "grito"* interminável está sempre ao alcance do ouvido, com uma mistura de piedade e exaltação, e seu bater de palmas soam como castanholas. Em seguida se fazem reuniões para orar mais tranquilamente, com invocações piedosas e salmos lentos, de memória pelo solista, duas frases ao mesmo tempo, numa espécie de canto de lamentação.
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* Tropas de cor dos Estado Unidos.

4 comentários:

Mari Eller disse...

Olá pastor Bertoni! Como tudo o que o senhor faz, o seu blógue continua pra lá de caprichado, hein? Gostei demais da "radiola" recheada de blues que toca aqui! Gosto muito do estilo musical, preciso pegar alguns cds seus emprestados! ;) Beijo, fique com Deus!

Anônimo disse...

Paz do Sr. meu querido irmão estou passando por aqui para lhe desejar uma semana com muitas bênçãos de Deus .
E pedindo as orações por mim pk estou a passar muitas necessidades e que Deus abra a mente dos responsáveis da minha igreja par que me possam ajudar Deus diz para ajudar o órfão , mas eles não estão fazendo nd e não querem saber de nada pk minguem se chega ao pé de mim para me ajudar com alguma coisa e sabem a minha situação
url - http://pedroaurelio.blogs.sapo.pt/

Carlos Roberto, Pr. disse...

Caro Bertoni!

Para não correr o risco de errar:

Graça e Paz, A Paz do Senhor e a Paz de Deus!

Seu blog está cada dia melhor. Com esse estilo musical diferenciado, então, ficou ótimo!
Continue!
Parabéns!

Anônimo disse...

Pr. Bertoni, a Paz do Senhor!

Estou visitando, entrando em seu espaço e deixando um forte abraço.
Não poderia encerrar esta visita oportuna sem expressar o prazer de encontrar aqui um blog didático, referencial e poéticamente enriquecido pelo amado Victor Hugo.
Tomei conhecimento deste através do blog do meu Pr. Carlos que deixou seu comentário acima.
Obrigado por sua inestimável contribuição educacional, espiritual e de pesquiza pelo que se propõe a apresentar.
Fraternalmente,
Gilvan Paz.