Por estar relacionada com a vida e a necessidade do homem se expressar, o conceito de arte parece ser de grande complexidade. Gombrich (1999, p. 15) afirma que “nada existe realmente a que se possa dar o nome Arte“. Para o mesmo existe apenas o artista e deve-se estar consciente de que tal palavra pode significar uma diversidade de coisas em épocas e lugares diferentes.
Para Coli (2005, p.7), dizer o que seja arte é coisa difícil, já que inúmeros tratados sobre estética são contraditórios.
O termo “arte” ou “obra de arte pode ser usado no sentido classificativo ou valorativo. No sentido classificativo, não está em jogo se uma determinada obra de arte é boa ou não, mas pretende-se apenas firmar se um determinado objeto ou produção se classifica como obra de arte. O sentido valorativo tenta expressar o valor positivo ou negativo, bom ou ruim de uma obra de arte.(1)
Para alguns, a arte pode ser sinônimo de beleza, estando relacionada à Estética.(2) Reis (1987, p. 9) define a obra de arte como todo trabalho que nos emociona por sua perfeição, beleza e originalidade.
No entanto, ficam muitas dificuldades: primeiro, o conceito do que é belo e perfeito varia segundo a época, a cultura e a subjetividade do artista. Segundo, o conceito de belo é muito subjetivo para quem contempla a obra de arte, pois o que pode ser belo para uma pessoa, pode não ser para outra, o que alguns chamam de teoria do gosto.(3)
Sobre isso, Gombrich (1995, p 16) escreve: Na realidade, não penso que existam quaisquer razoes erradas para se gostar de uma estátua ou de uma tela. Alguém pode gostar de certa paisagem porque esta lhe recorda a terra natal, ou de um retrato porque lhe lembra um amigo. Não há nada de errado nisso. (...) Só quando alguma recordação irrelevante nos torna preconceituosos, quando instintivamente voltamos as constas a um quadro magnífico de uma cena alpina porque não gostamos de praticar o alpinismo, é que devemos sondar o nosso íntimo para desvendar as razões para a aversão que estragam um prazer que, de outro modo, poderíamos ter tido. Existem razões erradas para não se gostar de uma obra de arte.
Uma terceira dificuldade que encontramos é: será que o belo é elemento indispensável para que uma produção artística seja considerada arte?
Beleza é uma percepção individual caracterizada normalmente pelo que é agradável aos sentidos. Mas fica difícil definir que belo é aquilo que é agradável aos sentidos. Aquilo que é desagradável aos sentidos também pode ser belo. Podemos citar como exemplo a tela de Edvard Munch “O Grito” e suas evoluções considerado como uma das obras mais importantes do movimentoexpressionista. Um crítico da época considerou o conjunto tão perturbador que aconselhou mulheres grávidas a evitar a exposição. A reação do público, no entanto, foi a oposta e o quadro tornou-se em motivo de sensação.
Um registro de seu diário expressa bem o espírito de angústia do artista. Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a vedação – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza (WIKPÉDIA).
As teorias essencialistas(4) sobre conceituação de arte, defendem que existe uma essência de arte, ou seja, que existem propriedades essenciais comuns a todas as obras de arte e que só nas obras de arte se encontram. As teorias essencialistas se dividem em três grupos: imitação, expressão e significante.
A teoria de arte como imitação entende que uma obra de arte só é arte se essa obra imita algo. No entanto, encontramos na pintura, na escultura abstrata e em outras artes visuais não figurativas, obras de arte que não imitam nada.
São as duas últimas que chamam a nossa atenção nessa simples tentativa de refletir o que seja arte relacionada com a estética como belo, perfeito e agradável aos sentidos.
A teoria da arte como expressão, afirma que uma obra é arte se exprime sentimentos e emoções do artista. Porém, há obras que não exprimem nenhum sentimento ou emoção no observador. O que dizer da chamada música aleatória (música feita com o recurso a sons produzidos ao acaso)? Além disso, mesmo que uma obra de arte provoque certas emoções em nós, daí não se segue que essas emoções tenham existido no seu autor (ALMEIDA).
E por fim, a teoria da arte como forma significante que afirma que uma obra é arte se provoca nas pessoas emoções estéticas. Esta teoria, defendida, entre outros, pelo filósofo Clive Bell, tem como ponto de partida o sujeito sensível que aprecia a obra de arte. Essa teoria apresenta uma enorme dificuldade, pois algumas pessoas não sentem nenhuma emoção ou significado diante de uma obra de arte que é considerada arte. Novamente estamos diante do subjetivismo do sujeito observador. Também fica a dificuldade de definir o que seja uma emoção estética. Seria uma combinação de cores e linhas na obra de arte como quer Clive Bell? E em que consiste a forma significante na música, na literatura, no teatro, etc.?
Pelo que se vê nenhuma teoria ou conceito tem um caráter completo e satisfatório.
Parece melhor, como faz Coli (2005, p. 131), refletir sobre arte na perspectiva da relação expectador-obra. O termo tem um caráter subjetivo, pois qualquer coisa pode ser chamada de Arte, desde que alguém a considere assim, não precisando ser limitada à produção feita por um artista. Esta percepção depende do contexto e do universo cognitivo do indivíduo que a observa.
A arte também é um fenômeno cultural, portanto sempre em movimento no decorrer da história. Logo, não há como estabelecer um conjunto de regras absolutas sobre a arte, pois o conjunto de regras não vai sobreviver ao tempo, mas em cada época, diferentes grupos (ou cada indivíduo) escolhem como devem compreender esse fenômeno.
Existe também uma variedade de conceitos do que seja beleza e perfeição entre indivíduos de um mesmo contexto histórico e geográfico. Associar arte ao conceito belo como aquilo que é agradável, também fica na superficialidade.
_____________________________
[1] Estes dois usos são frequentemente confundidos e é imprescindível tê-los em mente quando se discutem as diferentes teorias da arte.
[2] Chama-se Estética a ciência do belo. A palavra estética é de origem grega e significa “teoria sobre a natureza da percepção sensível”. Estética é a disciplina filosófica que se ocupa dos problemas, teorias e argumentos acerca da arte.
[3] Aires Almeida entende que a Estética só pode ser compreendida por meio da filosofia da arte. Este crítico apresenta três argumentos para tal compreensão: Em primeiro lugar, tanto a teoria do belo como a teoria do gosto dirigiram o seu interesse de forma particular para as obras de arte. Para além do problema de saber o que é o belo, um dos problemas colocados pela teoria do belo foi o da distinção entre o belo natural e o belo artístico. No mesmo sentido também os defensores da teoria do gosto procuraram compreender porque é que a arte está na origem de grande parte dos nossos juízos de gosto. Em segundo lugar, a teoria do belo e a teoria do gosto não conseguem dar conta de muitos dos problemas que se colocam com o conceito de arte. É o caso das obras de arte que dificilmente podemos considerar belas e daquelas de que não gostamos mas não podemos deixar de considerar obras de arte. Em terceiro lugar, o desenvolvimento da arte consegue levantar problemas acerca dos conceitos de belo e de gosto que estes não conseguem levantar acerca da arte. Isso torna-se evidente quando, por exemplo, os gostos e a própria noção de belo se podem modificar à medida que contactamos com diferentes obras de arte (a idéia de que a arte educa os gostos e influencia a nossa própria noção de belo.
[4] Entende-se por teoria essencialista um conjunto de idéias de arte intuitivamente partilhada por muitas pessoas.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALMEIDA, Aires. O Que é Arte? Três teorias sobre um problema central da estética. Disponível em http://criticanarede.com/fil_tresteoriasdaarte.html, acesso em 07/12/2006
COLI, Jorge. O que é Arte. 15ª ed., Editora Brasiliense, São Paulo – SP, 1995
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Trad. Álvaro Cabral. 16ª ed. LTC – Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro – RJ , 1999.
REIS, Sandra L. de Freitas. Educação Artística; introdução à história da arte. Belo Horizonte, 1987.
Wikipedia. http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_(Edvard_Munch) – Acesso em 07/12/2006.
Para Coli (2005, p.7), dizer o que seja arte é coisa difícil, já que inúmeros tratados sobre estética são contraditórios.
O termo “arte” ou “obra de arte pode ser usado no sentido classificativo ou valorativo. No sentido classificativo, não está em jogo se uma determinada obra de arte é boa ou não, mas pretende-se apenas firmar se um determinado objeto ou produção se classifica como obra de arte. O sentido valorativo tenta expressar o valor positivo ou negativo, bom ou ruim de uma obra de arte.(1)
Para alguns, a arte pode ser sinônimo de beleza, estando relacionada à Estética.(2) Reis (1987, p. 9) define a obra de arte como todo trabalho que nos emociona por sua perfeição, beleza e originalidade.
No entanto, ficam muitas dificuldades: primeiro, o conceito do que é belo e perfeito varia segundo a época, a cultura e a subjetividade do artista. Segundo, o conceito de belo é muito subjetivo para quem contempla a obra de arte, pois o que pode ser belo para uma pessoa, pode não ser para outra, o que alguns chamam de teoria do gosto.(3)
Sobre isso, Gombrich (1995, p 16) escreve: Na realidade, não penso que existam quaisquer razoes erradas para se gostar de uma estátua ou de uma tela. Alguém pode gostar de certa paisagem porque esta lhe recorda a terra natal, ou de um retrato porque lhe lembra um amigo. Não há nada de errado nisso. (...) Só quando alguma recordação irrelevante nos torna preconceituosos, quando instintivamente voltamos as constas a um quadro magnífico de uma cena alpina porque não gostamos de praticar o alpinismo, é que devemos sondar o nosso íntimo para desvendar as razões para a aversão que estragam um prazer que, de outro modo, poderíamos ter tido. Existem razões erradas para não se gostar de uma obra de arte.
Uma terceira dificuldade que encontramos é: será que o belo é elemento indispensável para que uma produção artística seja considerada arte?
Beleza é uma percepção individual caracterizada normalmente pelo que é agradável aos sentidos. Mas fica difícil definir que belo é aquilo que é agradável aos sentidos. Aquilo que é desagradável aos sentidos também pode ser belo. Podemos citar como exemplo a tela de Edvard Munch “O Grito” e suas evoluções considerado como uma das obras mais importantes do movimentoexpressionista. Um crítico da época considerou o conjunto tão perturbador que aconselhou mulheres grávidas a evitar a exposição. A reação do público, no entanto, foi a oposta e o quadro tornou-se em motivo de sensação.
Um registro de seu diário expressa bem o espírito de angústia do artista. Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a vedação – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza (WIKPÉDIA).
As teorias essencialistas(4) sobre conceituação de arte, defendem que existe uma essência de arte, ou seja, que existem propriedades essenciais comuns a todas as obras de arte e que só nas obras de arte se encontram. As teorias essencialistas se dividem em três grupos: imitação, expressão e significante.
A teoria de arte como imitação entende que uma obra de arte só é arte se essa obra imita algo. No entanto, encontramos na pintura, na escultura abstrata e em outras artes visuais não figurativas, obras de arte que não imitam nada.
São as duas últimas que chamam a nossa atenção nessa simples tentativa de refletir o que seja arte relacionada com a estética como belo, perfeito e agradável aos sentidos.
A teoria da arte como expressão, afirma que uma obra é arte se exprime sentimentos e emoções do artista. Porém, há obras que não exprimem nenhum sentimento ou emoção no observador. O que dizer da chamada música aleatória (música feita com o recurso a sons produzidos ao acaso)? Além disso, mesmo que uma obra de arte provoque certas emoções em nós, daí não se segue que essas emoções tenham existido no seu autor (ALMEIDA).
E por fim, a teoria da arte como forma significante que afirma que uma obra é arte se provoca nas pessoas emoções estéticas. Esta teoria, defendida, entre outros, pelo filósofo Clive Bell, tem como ponto de partida o sujeito sensível que aprecia a obra de arte. Essa teoria apresenta uma enorme dificuldade, pois algumas pessoas não sentem nenhuma emoção ou significado diante de uma obra de arte que é considerada arte. Novamente estamos diante do subjetivismo do sujeito observador. Também fica a dificuldade de definir o que seja uma emoção estética. Seria uma combinação de cores e linhas na obra de arte como quer Clive Bell? E em que consiste a forma significante na música, na literatura, no teatro, etc.?
Pelo que se vê nenhuma teoria ou conceito tem um caráter completo e satisfatório.
Parece melhor, como faz Coli (2005, p. 131), refletir sobre arte na perspectiva da relação expectador-obra. O termo tem um caráter subjetivo, pois qualquer coisa pode ser chamada de Arte, desde que alguém a considere assim, não precisando ser limitada à produção feita por um artista. Esta percepção depende do contexto e do universo cognitivo do indivíduo que a observa.
A arte também é um fenômeno cultural, portanto sempre em movimento no decorrer da história. Logo, não há como estabelecer um conjunto de regras absolutas sobre a arte, pois o conjunto de regras não vai sobreviver ao tempo, mas em cada época, diferentes grupos (ou cada indivíduo) escolhem como devem compreender esse fenômeno.
Existe também uma variedade de conceitos do que seja beleza e perfeição entre indivíduos de um mesmo contexto histórico e geográfico. Associar arte ao conceito belo como aquilo que é agradável, também fica na superficialidade.
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[1] Estes dois usos são frequentemente confundidos e é imprescindível tê-los em mente quando se discutem as diferentes teorias da arte.
[2] Chama-se Estética a ciência do belo. A palavra estética é de origem grega e significa “teoria sobre a natureza da percepção sensível”. Estética é a disciplina filosófica que se ocupa dos problemas, teorias e argumentos acerca da arte.
[3] Aires Almeida entende que a Estética só pode ser compreendida por meio da filosofia da arte. Este crítico apresenta três argumentos para tal compreensão: Em primeiro lugar, tanto a teoria do belo como a teoria do gosto dirigiram o seu interesse de forma particular para as obras de arte. Para além do problema de saber o que é o belo, um dos problemas colocados pela teoria do belo foi o da distinção entre o belo natural e o belo artístico. No mesmo sentido também os defensores da teoria do gosto procuraram compreender porque é que a arte está na origem de grande parte dos nossos juízos de gosto. Em segundo lugar, a teoria do belo e a teoria do gosto não conseguem dar conta de muitos dos problemas que se colocam com o conceito de arte. É o caso das obras de arte que dificilmente podemos considerar belas e daquelas de que não gostamos mas não podemos deixar de considerar obras de arte. Em terceiro lugar, o desenvolvimento da arte consegue levantar problemas acerca dos conceitos de belo e de gosto que estes não conseguem levantar acerca da arte. Isso torna-se evidente quando, por exemplo, os gostos e a própria noção de belo se podem modificar à medida que contactamos com diferentes obras de arte (a idéia de que a arte educa os gostos e influencia a nossa própria noção de belo.
[4] Entende-se por teoria essencialista um conjunto de idéias de arte intuitivamente partilhada por muitas pessoas.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALMEIDA, Aires. O Que é Arte? Três teorias sobre um problema central da estética. Disponível em http://criticanarede.com/fil_tresteoriasdaarte.html, acesso em 07/12/2006
COLI, Jorge. O que é Arte. 15ª ed., Editora Brasiliense, São Paulo – SP, 1995
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Trad. Álvaro Cabral. 16ª ed. LTC – Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro – RJ , 1999.
REIS, Sandra L. de Freitas. Educação Artística; introdução à história da arte. Belo Horizonte, 1987.
Wikipedia. http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_(Edvard_Munch) – Acesso em 07/12/2006.
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