quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Educare: peregrinos no tempo...


O termo “educação” procedente do latim educare (e seu cognato educere) significa “guiar, conduzir”, e o prefixo “e” pode ser traduzido por “para fora”. Em seu significado elementar, educação é a atividade de “conduzir para fora”. Libâneo (1985, p.97) define educação como: “educar (em latim, educare) é conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa direção o que é sucestível de educação”.
Encontram-se três aspectos distintos no significado básico de “conduzir para fora”: 1) a partir de um dado ponto, 2) um processo presente, e 3) um futuro em direção ao qual se efetua o “guiar para fora”. Sendo assim, a educação tem uma dimensão de “já”, uma de “ser concebida” e uma de “ainda não”.
O primeiro aspecto “já”, expressa tanto o que o aprendiz já sabe, como o que o educador sabe e o aprendiz tem capacidade interior de aprender. É o que John Dewey (1971, p. 19) chamou de “o capital consolidado da civilização” e parte da tarefa educacional é assegurar a conservação dessa herança, tornando-a disponível para as pessoas no presente.
O segundo aspecto, o de “um processo presente que está sendo concebido”, enfatiza não o que já está lá, mas aquilo que está sendo descoberto pelos alunos e educador na experiência do dia-a-dia. Entende-se que o tempo presente é de um processo ativo de reflexão e experimentação. É também como o tempo do compromisso imediato com a vida, pois o tempo presente não é meramente para redescobrir o já sabido; porém, acrescenta algo ao legado do conhecimento. O educador reformado Comenius, o Pai da didática moderna t oma a natureza criada como analogia para estabelecer princípios em que se fundamenta a solidez no ensinar e no aprender e afirma que a solidez é obtida “se tudo o que é posterior se fundamentar no que for anterior” (COMENIUS, 2002, p.184). E na escola, conclui que “todos os estudos devem ser organizados de tal modo que os estudos sucessivos sempre se baseiem nos precedentes e estes sejam consolidados por aqueles” (COMENIUS, 2002, p. 194).
O terceiro aspecto é o do “ainda não”, um guiar para fora rumo a um saber ainda não realizado. Se quisermos ter um futuro aproveitável, devemos educar com esta finalidade. Não é só uma preocupação pelo futuro do estudante, o futuro é aberto também para o educador, logo, uma preocupação do educador em relação ao futuro de toda a comunidade. Educamos para garantir que todos nós possamos ter um futuro. Para Paulo Freire (1982, p. 51), em Ação Cultural para a Liberdade a preocupação com o futuro é a dimen­são utópica da educação. Ele quer com isto dizer que a educa­ção não deve permitir que as pessoas se moldem pelo que já são, mas deve levá-las a construir um mundo melhor.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COMENIUS, João Amós. Didática Magna. Trad. Ivone Castilho Benedetti, 2ª ed. São Paulo; Martins Fontes, 2002.
DEWEY, John. “My Pedagogic Creed”. In D ewey on Education. Compilado por Martin S. Dworkin. Classics in Education No 3. New York: Teachers College Press, 1971.
FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico social dos conteúdos. São Paulo, Loyola, 1985.

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